31. A família é reconhecida no povo de Deus como um bem
inestimável, o ambiente natural de crescimento da vida, uma escola de
humanidade, de amor e de esperança para a sociedade. Ela continua a ser um
espaço privilegiado no qual Cristo revela o mistério e a vocação do homem. Ao
lado da afirmação partilhada deste dado originário, a grande maioria das
respostas afirma que a família pode ser este lugar privilegiado, deixando
entender, e por vezes explicitamente constatando, uma distância preocupante
entre a família nas formas em que hoje é conhecida e o ensinamento da Igreja a
este propósito. A família encontra-se objetivamente num momento muito difícil,
com realidades, histórias e sofrimentos complexos, que necessitam de um olhar
compassivo e compreensivo. É este olhar que permite que a Igreja acompanhe as
famílias como são na realidade e a partir daqui anunciar o Evangelho da família
segundo as suas necessidades específicas.
32. Reconhece-se nas respostas como durante muitos séculos a
família tenha desempenhado um papel significativo no âmbito da sociedade: de fato,
ela é o primeiro lugar onde a pessoa se forma na sociedade e para a sociedade.
Reconhecida como o lugar natural para o desenvolvimento da pessoa, é por isto
também o fundamento de qualquer sociedade e Estado. Em síntese, ela é definida
a «primeira sociedade humana». A família é o lugar onde se transmitem e se
podem aprender desde os primeiros anos de vida valores como fraternidade,
lealdade, amor à verdade e ao trabalho, respeito e solidariedade entre as
gerações, assim como a arte da comunicação e da alegria. Ela é o espaço
privilegiado para viver e promover a dignidade e os direitos do homem e da
mulher. A família, fundada no matrimônio, representa o âmbito de formação
integral dos futuros cidadãos de um país.
33. Um dos grandes desafios da família contemporânea consiste na
tentativa da sua privatização. Há o risco de esquecer que a família é a «célula
básica da sociedade, o espaço onde se aprende a conviver na diferença e a
pertencer aos outros» (EG 66).
É necessário propor uma visão aberta da família, fonte de capital social, o que
significa, de virtudes essenciais para a vida comum. Na família aprende-se o
que é o bem comum, porque nela se pode fazer a experiência da bondade de viver
juntos. Sem família o homem não pode sair do seu individualismo, pois só nela
se aprende a força do amor para apoiar a vida, e «sem um amor fiável, nada
poderia manter verdadeiramente unidos os homens: a unidade entre eles seria
concebível apenas enquanto fundada sobre a utilidade, a conjugação dos
interesses, o medo, mas não sobre a beleza de viverem juntos, nem sobre a
alegria que a simples presença do outro pode gerar» (LF 51).
34. Será necessário refletir sobre o que significa hoje promover
uma pastoral capaz de estimular a participação da família na sociedade. As
famílias não são só objeto de proteção por parte do Estado, mas devem recuperar
o seu papel como sujeitos sociais. Neste contexto surgem muitos desafios para
as famílias: a relação entre a família e o mundo do trabalho, entre a família e
a educação, entre a família e a saúde; a capacidade de unir entre si as
gerações, de modo que não se abandonem os jovens nem os idosos; o desenvolvimento
de um direito de família que tenha em consideração as suas relações
específicas; a promoção de leis justas, como as que garantem a defesa da vida
humana desde a sua concepção e as que promovem a bondade social do matrimónio
autêntico entre o homem e a mulher.
35. Um certo número de respostas frisa a imagem da Trindade refletida
na família. A experiência do amor recíproco entre os esposos ajuda a
compreender a vida trinitária como amor: através da comunhão vivida em família as
crianças podem divisar uma imagem da Trindade. Recentemente, o Santo Padre
Francisco recordou nas suas catequeses sobre os sacramentos que «quando um
homem e uma mulher celebram o sacramento doô, Deus, por assim dizer,
“espelha-se” neles, imprime neles os seus lineamentos e o caráter indelével do
seu amor. O matrimônio é o ícone do amor de Deus por nós. Com efeito, também
Deus é comunhão: as três Pessoas do Pai, Filho e Espírito Santo vivem desde
sempre e para sempre em unidade perfeita. É precisamente nisto que consiste o
mistério do Matrimônio: dos dois esposos Deus faz uma só existência» (Audiência
geral de 2 de Abril de 2014).
36. De maneira quase constante, as respostas frisam a importância
da família de Nazaré como modelo e exemplo para a família cristã. O mistério da
Encarnação do Verbo no seio de uma família revela-nos que ela é um lugar
privilegiado para a revelação de Deus ao homem. Com efeito, reconhece-se como
precisamente a família é o lugar normal e quotidiano do encontro com Cristo. O
povo cristão olha para a família de Nazaré como exemplo de relação de amor,
como ponto de referência para cada realidade familiar e como conforto na
tribulação. A Igreja dirige-se à família de Nazaré para confiar as famílias na
sua realidade concreta de alegria, de esperança e de sofrimento.
37. As respostas recebidas evidenciam a importância do amor vivido
em família, definida «sinal eficaz da existência do Amor de Deus», «santuário
do amor e da vida». A primeira experiência de amor e de relação é feita em
família: é frisada a necessidade de que cada criança viva no calor e nas
atenções protetoras dos pais, numa casa na qual reina a paz. As crianças devem
poder sentir que Jesus está com elas e que nunca estão sozinhas. A solidão das
crianças, devida à debilidade dos vínculos familiares está presente sobretudo
nalgumas áreas geográficas. Também as correções devem orientar-se para fazer
com que as crianças possam crescer num ambiente familiar no qual se vive o amor,
e os pais realizem a sua vocação de serem colaboradores de Deus no
desenvolvimento da família humana.
38. É frisado com insistência o valor formativo do amor vivido em
família, não só para os filhos, mas para todos os seus membros. A família é
definida «escola de amor», «escola de comunhão», um «ginásio de relações», o
lugar privilegiado no qual se aprende a construir relações significativas, que
ajudem o desenvolvimento da pessoa até à capacidade da doação de si. Algumas
respostas frisam que o conhecimento do mistério e da vocação da pessoa humana
está ligado com o reconhecimento e o acolhimento no seio da família dos
diferentes dons e capacidades de cada um. Sobressai aqui a ideia da família
como «primeira escola de humanidade»: nisto ela é considerada insubstituível.
39. O papel dos pais, primeiros educadores na fé, é considerado
essencial e vital. Com frequência se evidencia o testemunho da sua fidelidade
e, em particular, da beleza da sua diferença; por vezes afirma-se simplesmente
a importância dos papéis distintos de pai e mãe. Noutros casos, é ressaltada a
positividade da liberdade, da igualdade entre os cônjuges e da sua
reciprocidade, assim como a necessidade do envolvimento de ambos os pais tanto
na educação dos filhos como nos trabalhos domésticos, como é afirmado nalgumas
respostas, sobretudo naquelas da Europa.
40. Em relação ainda à diferença, por vezes é frisada a riqueza da
diferença intergeracional que se pode experimentar em família, em cujo âmbito
se vivem eventos decisivos como o nascimento e a morte, os sucessos e as
desventuras, a metas alcançadas e as desilusões. Através destes e de outros
eventos, a família torna-se o lugar no qual os filhos crescem no respeito da
vida, na formação da sua personalidade, atravessando todas as fases da
existência.
41. É evidenciada com insistência nas respostas a importância que
a fé seja compartilhada e tornada explícita por parte dos pais, começando pelo
estilo de vida do casal na relação entre si e com os filhos, mas também através
da partilha do seu conhecimento e consciência de Cristo, o qual - como é
recordado constantemente - deve estar no centro da família. No contexto de uma
sociedade plural os pais podem assim oferecer aos filhos uma orientação básica
para a sua vida, que os possa apoiar também depois da infância. Por isto são
afirmadas a necessidade de criar um espaço e um tempo para estar juntos em
família e a necessidade de uma comunicação aberta e sincera, num diálogo
constante.
42. É unanimemente frisada a importância da oração em família,
como igreja doméstica (cf. LG 11), a fim de alimentar uma verdadeira
«cultura familiar de oração». Com efeito, o conhecimento autêntico de Jesus
Cristo é promovido em família pela oração pessoal e, em particular, familiar,
segundo as formas específicas e as práticas domésticas, consideradas uma forma
eficaz para transmitir a fé às crianças. É feita grande insistência também
sobre a leitura comum da Escritura, assim como sobre outras formas de oração,
como a bênção da mesa e a recitação do rosário. É contudo explicitado que a
família igreja doméstica não pode substituir a comunidade paroquial; além
disso, frisa-se a importância da participação familiar na vida sacramental, na
Eucaristia dominical e nos sacramentos da iniciação cristã. Em várias
respostas, é sublinhada também a importância de viver o sacramento da
reconciliação e a devoção mariana.
43. Além disso, é realçada a importância da família para um
desenvolvimento integral: a família resulta ser fundamental para a maturação daqueles
processos afetivos e cognitivos que são decisivos para a estruturação da
pessoa. Por ser ambiente vital no qual a pessoa se forma, a família é também
fonte na qual adquirir a consciência de ser filhos de Deus, chamados por
vocação ao amor. Outros lugares contribuem para o crescimento da pessoa, como a
convivência social, o mundo do trabalho, a política, a vida eclesial; contudo,
reconhece-se como os fundamentos humanos adquiridos em família permitam aceder
a ulteriores níveis de socialização e estruturação.
44. A família confronta-se quotidianamente com muitas dificuldades
e provas, como indicam muitas respostas. Ser uma família cristã não garante
automaticamente a imunidade de crises até profundas, através das quais contudo
a família se consolida, chegando assim a reconhecer a própria vocação
originária no desígnio de Deus, com o apoio da ação pastoral. A família é uma
realidade já «dada» e garantida por Cristo, e deve ser «construída» todos os
dias ao mesmo tempo com paciência, compreensão e amor.
45. Um dado importante que sobressai das respostas é que também
face a situações bastante difíceis, muitas pessoas, sobretudo jovens, sentem o
valor do vínculo estável e duradouro, um verdadeiro desejo de matrimônio e
família, no qual realizar um amor fiel e indissolúvel, que ofereça serenidade
para o crescimento humano e espiritual. O «desejo de família» revela-se como um
verdadeiro sinal dos tempos, que pede para ser aproveitado como ocasião
pastoral.
46. É necessário que a Igreja se ocupe das famílias que vivem
situações de crise e de stress; que a família seja acompanhada durante todo o
ciclo da vida. A qualidade das relações no âmbito da família deve ser uma das
preocupações cruciais da Igreja. O primeiro apoio vem de uma paróquia vivida
como «família de famílias», identificada como o centro principal de uma
pastoral renovada, feita de acolhimento e de acompanhamento, vivido na
misericórdia e na ternura. Indica-se a importância de organizações paroquiais
de apoio à família.
47. Além disso, nalguns casos é urgente a necessidade de
acompanhar situações nas quais os vínculos familiares estão ameaçados pela
violência doméstica, com intervenções de apoio capazes de curar as feridas
infligidas, e desenraizar as causas que as determinaram. Onde dominam abuso,
violência e abandono não pode haver nem crescimento nem percepção alguma do
próprio valor.
48. Por fim, evidencia-se a importância de uma estreita
colaboração entre as famílias/casas e a paróquia, na missão de evangelizar,
assim como a necessidade do envolvimento ativo da família na vida paroquial,
através de atividades de subsidiariedade e solidariedade a favor de outras
famílias. A este respeito, menciona-se a ajuda preciosa de comunidades
compostas por famílias. Também a pertença a movimentos e associações pode ser
particularmente significativa do ponto de vista do apoio.
49. É frisada com muita frequência a necessidade de uma pastoral
familiar que tenha como objetivo uma formação constante e sistemática acerca do
valor do matrimonio como vocação, da redescoberta da genitorialidade
(paternidade e maternidade) como dom. O acompanhamento do casal não se deve limitar
à preparação para o matrimonio, em relação à qual se aponta - aliás - a
necessidade de rever os percursos. Evidencia-se sobretudo a necessidade de uma
formação mais constante e minuciosa: bíblica, teológica, espiritual, mas também
humana e existencial. Faz-se presente a necessidade de que a catequese assuma
uma dimensão intergeracional, que envolva ativamente os pais no percurso de
iniciação cristã dos próprios filhos. Nalgumas respostas é indicada uma
particular atenção às festas litúrgicas, como o tempo de Natal e sobretudo a
festa da Sagrada Família, como momentos preciosos para mostrar a importância da
família e apreender o contexto humano no qual Jesus cresceu, no qual aprendeu a
falar, amar, rezar e trabalhar. Recomenda-se a necessidade de salvaguardar,
também sob o ponto de vista civil, onde for possível, o domingo como dia do
Senhor; como dia no qual favorecer o encontro na família e com as outras
famílias.
132. Os desafios que a família deve enfrentar no âmbito educativo
são múltiplos; muitas vezes, os pais sentem-se despreparados perante esta
tarefa. O Magistério recente insistiu sobre a importância da educação, para a
qual os cônjuges recebem também uma graça singular no seu matrimônio. Nas
respostas e observações frisou-se que a educação deve ser integral, suscitando
a grande interrogação sobre a verdade, que pode orientar no caminho da vida
(cf. Bento XVI, Discurso, 21 de Janeiro de 2008), e
que nasce sempre no âmbito de um amor, a começar pela experiência de amor que
vive o filho acolhido pelos pais (cf. Bento XVI, Discurso, 23 de Fevereiro de 2008).
A educação consiste numa introdução ampla e profunda na realidade global e em
particular na vida social, e é responsabilidade primária dos pais, que o Estado
deve respeitar, salvaguardar e promover (cf. GE 3; FC 37). O Papa Francisco ressaltou a
importância da educação na transmissão da fé: «Os pais são chamados – como diz
Santo Agostinho – não só a gerar os filhos para a vida, mas a levá-los a Deus,
para que sejam, através do Batismo, regenerados como filhos de Deus e recebam o
dom da fé» (LF 43).
133. A obra pastoral da Igreja é chamada a ajudar as famílias na
sua tarefa educacional, a começar pela iniciação cristã. A catequese e a
formação paroquial constituem instrumentos indispensáveis para apoiar a família
nesta tarefa de educação, de modo particular por ocasião da preparação para o
batismo, a crisma e a eucaristia. Além da família e da paróquia, realça-se a
fecundidade do testemunho dos movimentos de espiritualidade familiar e das
agregações laicais, nas quais tende a desenvolver-se cada vez mais um
«ministério de casal», onde os formadores das famílias levam em frente o
crescimento da igreja doméstica através de encontros pessoais e entre famílias,
sobretudo cuidando da oração.
134. A educação cristã em família realiza-se, principalmente,
através do testemunho de vida dos pais em relação aos filhos. Algumas respostas
recordam que o método de transmissão da fé não se altera ao longo do tempo,
embora se tenha que adaptar às circunstâncias: caminho de santificação do
casal; oração pessoal e familiar; escuta da Palavra e testemunho da caridade.
Onde se vive este estilo de vida, a transmissão da fé é assegurada, não
obstante os filhos sejam submetidos a pressões de sinal oposto.
135. O desafio da educação cristã e da transmissão da fé é muitas
vezes marcado, em numerosos países, pela profunda mudança do relacionamento
entre as gerações, que condiciona a comunicação dos valores na realidade
familiar. No passado, este relacionamento encontrava-se na base de uma vida de
fé compartilhada e comunicada como patrimonio entre uma geração e a outra.
Todos os episcopados, e muitas observações, relevam as profundas transformações
a este propósito, e a sua influência sobre a responsabilidade educacional da
família; contudo, é inevitável observar certas diferenciações, em conformidade
com os elementos tradicionais ainda presentes na própria sociedade ou com os
desenvolvimentos dos processos de secularização. Os episcopados da Europa
ocidental recordam como, nos anos sessenta e setenta do século passado, houve
um vigoroso conflito geracional. Hoje, talvez também sob o condicionamento
daquelas experiências, os pais parecem muito cautos em incentivar os filhos à
prática religiosa. Precisamente neste campo procura-se evitar conflitos, em vez
de os enfrentar. Além disso, no que diz respeito aos temas religiosos, os
próprios pais sentem-se muitas vezes inseguros, de tal forma que no momento de
transmitir a fé eles permanecem frequentemente sem palavras e, embora a
considerem importante, delegam esta tarefa a instituições religiosas. Isto
parece demonstrar uma fragilidade da parte dos adultos e principalmente dos
pais jovens, no momento de transmitir o dom da fé com alegria e convicção.
136. Das respostas releva-se como as escolas católicas, nos seus
vários níveis, desempenham um papel importante na transmissão da fé aos jovens
e contribuem em grande medida para a tarefa educativa dos pais. Recomenda-se
que elas sejam incrementadas e sustentadas por toda a comunidade eclesial. Isto
resulta especialmente relevante naquelas situações em que o Estado é invasivo
de modo particular nos processos educativos, procurando privar a família da
própria responsabilidade educativa. Neste sentido, a escola católica expressa a
liberdade de educação, reivindicando o primado da família como verdadeiro
sujeito do processo educacional, para o qual devem concorrer as demais figuras
em jogo na educação. Pede-se uma maior colaboração entre famílias, escolas e
comunidades cristãs.
137. A tarefa da família na transmissão e educação para a fé é
considerada ainda mais importante em regiões onde os cristãos são minoritários,
como recordam os episcopados do Médio Oriente. Uma experiência dolorosa é
relevada nas respostas provenientes dos países da Europa do Leste: as gerações
mais idosas viveram durante o socialismo e receberam os fundamentos cristãos
antes do advento daquele regime. As gerações mais jovens, ao contrário,
cresceram num clima pós-comunista, caracterizado por fortes processos de
secularização. Tudo isto condicionou negativamente a transmissão da fé. No
entanto, as gerações mais jovens são sensíveis principalmente ao exemplo e ao
testemunho dos pais. Em geral, as famílias que participam nos movimentos
eclesiais são mais ativas na tentativa de transmitir a fé às novas gerações.
Nalgumas respostas encontra-se um certo paradoxo educativo a propósito da fé:
em diversas realidades eclesiais não são os pais que transmitem a fé aos
filhos, mas vice-versa; são os filhos que, abraçando-a, a comunicam a pais que,
desde há tempos abandonaram a prática cristã.
138. Se a transmissão da fé e a educação cristã resultam
inseparáveis do autêntico testemunho da vida, compreende-se como as situações
difíceis no seio do núcleo familiar agravam a complexidade do processo
educacional. Neste sentido, uma maior atenção pastoral a respeito da educação
cristã deve ser dirigida àquelas realidades familiares cujos filhos podem
ressentir particularmente da situação dos pais, definida como irregular. A este
propósito, formulam-se votos a favor da utilização de expressões que não deem a
percepção de distância, mas de inclusão; que possam transmitir em maior medida
o acolhimento, a caridade e o acompanhamento eclesial, de maneira a não gerar,
sobretudo nas crianças e nos jovens em questão, a ideia de uma rejeição ou de
uma discriminação dos seus pais, na consciência de que «irregulares» são as
situações, não as pessoas.
139. O panorama contemporâneo da educação é bastante complexo e
mutável. Existem regiões onde a fé católica continua a receber um elevado
consenso, mas onde o número de crianças e jovens nascidos e crescidos em
famílias regulares está em evidente diminuição. Noutras regiões as Igrejas
particulares devem enfrentar outros desafios educativos, num contexto em que as
convivências extraconjugais, a homossexualidade e os matrimônios civis não são
autorizados. Todavia, não obstante os graus de diversidade, a Igreja encontra
estas situações difíceis ou irregulares já em toda a parte. Este fenômeno,
mesmo onde ainda é consistente a presença de núcleos biparentais regularmente
unidos mediante o matrimônio religioso, está em aumento.
140. Das respostas sobressaem três elementos a respeito das
situações irregulares e da sua incidência sobre a educação. Acerca das uniões
entre pessoas do mesmo sexo, das respostas deduz-se que esta realidade, ainda
circunscrita a países «liberal-progressistas», no momento atual não suscita
interrogativos pastorais específicos. Algumas indicações pastorais já foram comentadas
no final da II parte. Um segundo elemento que deve ser considerado é a
existência atual e o aumento de núcleos monoparentais: muitas vezes trata-se de
mães com filhos menores sob a sua responsabilidade, em contextos de pobreza.
Este fenômeno interpela sobretudo as sensibilidades das Igrejas da América
Latina e da Ásia onde, não raro, tais mães são obrigadas a delegar a educação
dos filhos ao clã familiar. Em terceiro lugar, no Sul do mundo tem uma grande
relevância o fenômeno das «crianças de rua», deixadas a si mesmas por pais em
dificuldade, órfãos pela morte violenta dos pais, e por vezes confiadas aos
avós.
141. Em linha geral, da análise das respostas obtém-se a ideia de
que os pais em situações irregulares se dirigem à Igreja com atitudes muito
diferenciadas, segundo os sentimentos e as motivações que os animam. Há quem
alimenta muito respeito e confiança pela Igreja e, ao contrário, quem demonstra
uma atitude negativa por causa da vergonha experimentada devido às escolhas
feitas, ou ainda quem hesita em aproximar-se dela com medo de ser rejeitado ou
marginalizado. Enquanto alguns consideram que a comunidade eclesial os pode
compreender e acolher com benignidade, apesar dos seus fracassos e
dificuldades, outros julgam a Igreja uma instituição que se intromete demasiado
no estilo de vida das pessoas, ou então estão persuadidos de que ela é uma
espécie de tutora que deve garantir educação e acompanhamento, mas sem
apresentar demasiadas pretensões.
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142. O pedido principal e mais difundido, que os pais nestas
situações de vida dirigem às Igrejas particulares, é o da administração dos
sacramentos aos filhos, de maneira especial o batismo e a primeira comunhão,
mas com uma clara dificuldade de reservar a devida importância e o justo valor
à formação religiosa e à participação na vida paroquial. Muitos sabem que a
catequese é um pré-requisito para receber os sacramentos, mas mais do que uma
oportunidade, consideram-na uma obrigação, uma formalidade ou um compromisso
que devem aceitar para que o filho possa receber aquilo que foi solicitado. As
respostas fazem notar que, frequentemente, se verificam reticências e
desinteresse por parte dos pais em relação ao percurso de preparação cristã
proposto pelas comunidades. O resultado é que muitas vezes os pais, se podem,
evitam participar nos percursos previstos para os filhos e para eles,
justificando-se com razões de tempo e de trabalho, enquanto muitas vezes se
trata de desleixe e de busca de soluções mais cômodas ou rápidas. Às vezes,
eles manifestam até atitudes negativas diante das exigências dos catequistas.
Noutros casos, é evidente a sua indiferença, porque permanecem sempre passivos
em relação a qualquer iniciativa, e não se comprometem na educação religiosa do
filho.
143. Aquilo que sobressai da análise dos dados é que
numerosíssimos destes pais, como de resto uma boa parte de pais católicos
regularmente casados, pedem para os filhos a iniciação nos sacramentos a fim de
não faltar a um hábito, a um costume típico da sociedade. O sacramento ainda
representa para muitas pessoas uma festa tradicional, que elas pedem mais por
conformação com um hábito familiar e social, do que por convicção. Todavia, há
pais que desejam sinceramente transmitir a fé aos filhos e, por isso, confiam nos
itinerários de formação que a paróquia propõe em vista da administração dos
sacramentos. Por vezes, eles mesmos pedem para ser ajudados a sair das
situações que os tornam frágeis, estão dispostos a começar um autêntico caminho
de espiritualidade e desejam participar concretamente na vida da Igreja,
deixando-se comprometer no percurso catequético-sacramental dos filhos. Não são
raros os casos nos quais os pais voltam a descobrir a fé de modo mais genuíno,
às vezes chegando até a pedir o matrimônio depois de anos de convivência.
144. Das respostas foram recenseados inclusive outros tipos de
pedidos, que os pais em situações irregulares apresentam à Igreja. Em
particulares realidades culturais, acontece que eles pedem os sacramentos para
os próprios filhos por motivos de superstição ou para evitar que permaneçam no
paganismo. Noutras circunstâncias, eles dirigem-se aos sacerdotes locais
simplesmente para poder receber um apoio económico e educativo. Em geral
diminui o pedido da Confirmação para os próprios filhos, sobretudo nos países
mais secularizados. Difunde-se a ideia de que é bom conceder aos jovens a
liberdade e a responsabilidade de começar o percurso de iniciação na vida
cristã. Apresenta-se uma dificuldade quando os pais divorciados estão em desacordo
no que se refere ao percurso de iniciação cristã do filho; em tais casos, a
Igreja é chamada a assumir um importante papel de mediação, através da
compreensão e do diálogo.
145. No que se refere ao pedido de ensino da religião católica aos
próprios filhos, das respostas e das observações recebidas relevam-se duas
tipologias. Por um lado, existem casos em que é possível pedir para usufruir ou
não do ensino da religião católica na escola, para além da catequese paroquial.
Em geral, optam por este pedido também os pais que vivem em situações
irregulares e, particularmente na Europa, muitos dos não-católicos ou até dos
não-batizados. Ao longo dos últimos anos, nalgumas regiões de certos países
europeus, aumentou o número de pessoas inscritas no ensino da religião católica
nas escolas públicas. Por outro lado, existem alguns sistemas escolares de base
(como o australiano), que oferecem a possibilidade de uma boa educação para a
fé e instrução religiosa. Em tais casos, muitos pais em situações irregulares,
quando o filho foi batizado, usufruem facilmente da possibilidade de seguir os
programas de formação cristã oferecidos pela própria escola, que preparam para
receber os sacramentos sem ter que participar nos percursos de catequese
paroquial. Diversa é também a realidade das escolas e colégios católicos
presentes e ativos em todos os continentes. Neles, os filhos de pais em
situações irregulares podem inscrever-se sem pré-requisitos. Com efeito,
resulta que se os procuram de bom grado, é principalmente porque sabem que
receberão assistência e colaboração na obra educativa dos filhos. Na África, as
escolas católicas constituem lugares importantes para a educação cristã das
crianças. Nas respostas foi enfrentada de maneira escassa a questão relativa à
incidência do ensino da religião católica no percurso de educação para a fé.
Relevam-se tentativas de trabalho conjunto entre catequese paroquial, atividades
escolares e instrução religiosa, agindo em maior medida neste campo. Tem-se a
impressão de que este caminho deve ser favorecido especialmente onde o ensino
da religião católica se limita ao aspecto intelectual.
146. As Igrejas particulares comprometeram-se no acompanhamento
das famílias e, juntamente com elas, também das situações irregulares. Quando
os pais, geralmente depois de um afastamento da Igreja, se aproximam dela e
pedem à comunidade eclesial a preparação sacramental para os seus filhos, a
abordagem mais profícua que se verifica nas respostas é a do acolhimento sem
preconceitos. Isto significa que o respeito, a abertura benévola e a escuta das
necessidades humanas e espirituais se demonstram atitudes fundamentais para
criar um ambiente favorável e adequado para a transmissão da mensagem
evangélica. Entre as experiências eclesiais eficazes e significativas,
destinadas a contribuir para o percurso destes pais, foram evidenciadas: as
catequeses comunitárias e familiares; os movimentos de apoio à pastoral
conjugal; as missas dominicais; as visitas às famílias; os grupos de oração; as
missões populares; a vida das comunidades eclesiais de base; os grupos de
estudo bíblico; as atividades e a pastoral dos movimentos eclesiais; a formação
cristã oferecida aos pais das crianças e dos jovens que frequentam os numerosos
colégios e centros de educação católica, principalmente na América Latina.
Muitas vezes são os filhos que evangelizam os pais.
147. Não obstante o que foi dito, numerosas respostas observam que
a pastoral hodierna da Igreja nem sempre é capaz de acompanhar de maneira
adequada estas realidades familiares específicas. A obra pastoral teria
necessidade de renovação, de criatividade e de alegria para ser mais incisiva e
construtiva na criação de uma relação de osmose entre formação dos jovens,
formação para a fé dos pais e vida comunitária. Existem novas iniciativas que
se movem neste rumo: os momentos de formação, de oração e de retiro, destinados
aos pais, muitas vezes contemporaneamente com a catequese sacramental dos
filhos; as «escolas para pais»; os programas de catequese sobre a moral
familiar e sexual; a oportunidade de reunir mais casais numa única celebração
do matrimônio (mass-marriage), para ir ao encontro também do problema
financeiro, que muitas vezes impede e desencoraja o pedido de matrimônio, como
por exemplo na Nigéria e na África do Sul. Alguns relevam que, no entanto, se
trata de ofertas ainda não plenamente estruturadas.
148. Das respostas dadas aos questionários sobressai que, se por
um lado o acompanhamento dos pais depende da disponibilidade a deixar-se
comprometer e guiar, o seu cuidado nasce principalmente do sentido de
responsabilidade, da solicitude dos sacerdotes locais e da sua capacidade de
empenhar o mais possível toda a comunidade paroquial. Nas paróquias alemãs, por
exemplo, tanto as crianças como os pais são seguidos por um grupo de
catequistas que os acompanham ao longo do percurso catequético. Nas cidades
grandes parece mais complexo conseguir realizar uma abordagem pastoral
personalizada. De qualquer maneira, representa um desafio a possibilidade de se
aproximar com profunda atenção destas irmãs e destes irmãos, de os acompanhar,
ouvir e ajudar a expressar as interrogações que residem no seu coração, de
propor um itinerário que possa fazer renascer o desejo de um aprofundamento da
relação com o Senhor Jesus, também mediante autênticos vínculos comunitários.
Deveriam ser incentivadas as iniciativas já existentes, como aquela promovida
por algumas Conferências Episcopais sul-americanas, que produzem e oferecem
subsídios formativos para ajudar estes pais na educação dos seus filhos.
149. As Igrejas particulares sabem bem que a culpa das escolhas ou
da vivência dos próprios pais não é das crianças nem dos jovens. Por isso, em
toda a parte os filhos são acolhidos sem distinções em relação aos outros, com
o mesmo amor e a mesma atenção. A oferta formativa cristã que lhes é proposta
não se diferencia das iniciativas de catequese e de atividade pastoral
destinadas aos jovens da comunidade inteira: a catequese; as escolas de oração;
a iniciação na liturgia; os grupos, especialmente a infância missionária na
América Latina; as escolas de teatro bíblico e os coros paroquiais; as escolas
e os campos paroquiais; os grupos juvenis. Observa-se que não existem atividades
especiais que possam apoiar estas crianças, para cicatrizar ou elaborar as suas
feridas. Formulam-se votos a fim de que haja a promoção de itinerários a seu
favor, a organização de percursos de apoio, de forma especial no período
difícil da separação e do divórcio dos pais, momento em que eles devem poder
continuar a esperar nos vínculos familiares, não obstante os pais estejam a
separar-se. Numa diocese do norte da Europa, onde a taxa de crianças que são
filhos de divorciados é muito elevada, para ir ao encontro das problemáticas
destas realidades familiares e da dificuldade dos jovens, que nos
fins-de-semana nem sempre podem participar na catequese, alguns párocos
organizam a catequese em fins-de-semana alternados, de tal maneira que as
crianças possam participar sempre, sem se sentir diversos.
150. Além das paróquias, das associações e dos movimentos, também
o apostolado dos institutos religiosos femininos oferece uma contribuição
válida para estes pais e para os seus filhos, sobretudo onde existem formas de
pobreza extrema, de intolerância religiosa ou de exploração da mulher; e também
a Obra da Propagação da Fé, que contribui para a educação e a formação cristã
de crianças, inclusive daquelas cujos pais vivem em situações irregulares,
através de subsídios ordinários e extraordinários.
151. No que diz respeito ao percurso de preparação para os
sacramentos e à prática sacramental, segue-se quanto é indicado pelas normas
canônicas, pelas Conferências Episcopais e pelas diretrizes diocesanas. Não se
prevê um caminho de preparação alternativo àquele dos filhos de famílias
regulares. Por conseguinte, em linha de princípio segue-se o percurso clássico,
que prevê a preparação para o sacramento do batismo mediante encontros com os
pais; segue-se-lhe a catequese ordenada e progressiva, em conformidade com a
idade para a preparação, em cerca de três ou quatro anos, para os outros
sacramentos da iniciação cristã, contanto que os pais peçam que os filhos os
possam receber. Depois da confirmação, em determinadas dioceses, o percurso
formativo prossegue através de experiências pastorais como a solene profissão
de fé e iniciativas específicas para os grupos juvenis. Em geral, depois da
confirmação, assiste-se quer a uma brusca diminuição na frequência, às vezes
atribuída a uma catequese pouco adequada para os jovens, quer ao abandono da
prática sacramental, que deve ser atribuída às escassas motivações pessoais.
Isto confirma a falta de firmeza na fé e de acompanhamentos personalizados. As
variações que subsistem entre as Igrejas particulares e as diversas Igrejas
Orientais Católicas, a propósito destas temáticas, podem ser atribuídas à ordem
segundo a qual os sacramentos são administrados, à idade com a qual podem ser
recebidos, ou então à organização dos programas de catequese, mas também a
escolhas pastorais que deveriam encorajar e abrir novos caminhos de
acompanhamento.
152. Alguns aprovam o compromisso de celebrar os sacramentos não
numa idade estabelecida antecipadamente, mas tendo em consideração a maturidade
espiritual dos adolescentes, embora tal prática muitas vezes suscite
dificuldades entre os pais. Noutros casos, as crianças de famílias constituídas
irregularmente recebem o batismo depois de três-quatro anos de catequese, na
idade com a qual os seus companheiros são admitidos à primeira comunhão, como
estabelecem por exemplo algumas Conferências Episcopais africanas. Quando os
pais pedem o batismo para os seus filhos, encontrando-se contudo em situação de
convivência, há Igrejas nas quais se opta por um acompanhamento pessoal dos
pais antes de administrar o sacramentos aos filhos, com a instrução que os
orienta a aproximar-se de novo dos sacramentos, até à celebração do matrimonio.
Somente depois de alguns anos, também os filhos receberão o batismo. Esta
prática é testemunhada nalguns países africanos e árabes. Noutros países o
rigorismo pastoral acerca do nível moral da vida dos pais comportaria o risco
de negar injustamente os sacramentos às crianças e de provocar uma
discriminação injusta entre diversas situações moralmente inaceitáveis (por
exemplo, punir as crianças pela invalidade do matrimônio dos pais, mas não levar
em consideração a situação daqueles que vivem de delinquência e de exploração).
São poucos os casos em que se faz referência ao catecumenato para as crianças.
153. As dificuldades que se relevam a propósito da prática sacramental
chamam a atenção para aspectos delicados e questões problemáticas para a
prática das Igrejas particulares. Em relação ao sacramento do batismo
denuncia-se, por exemplo, a atitude de tolerância com a qual, às vezes, é
administrado aos filhos de pais em situações irregulares, sem percursos
formativos. Sobre este mesmo tema, verificam-se casos em que foi rejeitado o
percurso de iniciação cristã, porque um dos dois pais vive em situação
irregular. Nas respostas aparece várias vezes a referência à grave dificuldade
de pais que não podem aceder aos sacramentos da penitência e da Eucaristia,
enquanto as crianças são convidadas a participar nos sacramentos. Esta
dificuldade é vivida em proporção à compreensão ou incompreensão do sentido da
não-admissão, entendido apenas em termos negativos, ou então no contexto de um
possível percurso de cura.
154. Parece cada vez mais necessária uma pastoral sensível,
norteada pelo respeito destas situações irregulares, capaz de oferecer uma ajuda
concreta para a educação dos filhos. Sente-se a necessidade de um
acompanhamento melhor, permanente e mais incisivo em relação aos pais que vivem
tais situações. Uma vez que é elevado o número de quantos voltam à fé por
ocasião da preparação dos filhos para os sacramentos, seria preciso pensar a
nível local em oportunos caminhos de redescoberta e de aprofundamento da fé,
que exigiriam uma preparação adequada e uma obra pastoral conveniente. Uma
indicação significativa refere-se à nova compreensão do valor e do papel que
assumem o padrinho ou a madrinha ao longo do caminho de fé das crianças e dos
adolescentes. As sugestões enviadas a respeito deste tema vão da necessidade de
repensar os critérios para a sua escolha, que se torna cada vez mais complexa devido
ao crescente número de pessoas que vivem em situações irregulares, à
necessidade de incentivar ou tornar a catequese ativa para os pais e para os
padrinhos e as madrinhas, tendo em consideração a elevada percentagem de
quantos nem sequer têm consciência do significado do sacramento. Um
acompanhamento pastoral específico deverá ser dedicado aos matrimônios mistos e
de disparidade de culto, que muitas vezes encontram dificuldades relevantes na
educação religiosa dos filhos.
155. As Conferências Episcopais interrogam-se se não é possível
instruir em cada comunidade cristã casais que possam seguir e sustentar o
percurso de crescimento das pessoas interessadas de maneira autêntica, como
madrinhas e padrinhos idóneos. Nas regiões onde os catequistas desempenham um
papel importante e delicado, sugere-se que sejam formados com maior
empenhamento e que sejam escolhidos com maior discernimento, dado que suscitam
divisões e perplexidades os casos de catequistas que vivem em situações de
irregularidade matrimonial. Releva-se que a Igreja deveria ter em maior
consideração a qualidade da oferta catequética, exigindo uma formação melhor da
parte dos catequistas, para que sejam testemunhas de vida credíveis. Observa-se
a necessidade de uma preparação mais profunda para os sacramentos, mediante a
evangelização das pessoas: seria preciso trabalhar mais por uma iniciação na fé
e na vida. Pede-se que seja garantida uma pastoral apropriada aos pais,
incluídos na faixa que vai do batismo à primeira comunhão dos filhos. Propõe-se
que se organize, a nível de decanatos-vicariatos, encontros para quantos vivem
ou devem enfrentar problemáticas familiares e, ao mesmo tempo, são chamados a
educar os filhos para a fé.
156. As escolas católicas têm uma grande responsabilidade em
relação a estas crianças, adolescentes, jovens, filhos de casais em situações
irregulares, cujo número nelas já é elevado. A este propósito, a comunidade
educativa escolar deveria suprir cada vez mais ao papel familiar, criando uma
atmosfera hospitaleira, capaz de mostrar o rosto de Deus. Contudo, deseja-se
que a preparação para os sacramentos se realize mediante uma colaboração
concreta entre a paróquia e a escola católica, para fortalecer o sentido de
pertença à comunidade. Pede-se que possam ser incentivados a todos níveis
eclesiais os percursos de educação e de formação para o amor, a afectividade e
a sexualidade, destinados às crianças, aos adolescentes e aos jovens. A
proposta de novos modelos de santidade conjugal poderia favorecer o crescimento
das pessoas no contexto de um tecido familiar válido, nas suas tramas de
salvaguarda, educação e amor.
157. Nos casos de algumas das situações difíceis, por exemplo de
casais de refugiados ou de migrantes, a Igreja deveria oferecer antes de tudo
uma ajuda material e psicológica, contribuindo para a instrução e a prevenção
de abusos ou de exploração de menores. No caso dos «nomades», que em geral
pedem o sacramento do batismo para os seus filhos, as Igrejas particulares
deveriam comprometer-se mais intensamente em prol de um acompanhamento
espiritual da família, para que possa completar-se todo o arco de iniciação
cristã.
158. O amplo material enviado à Secretaria do Sínodo dos Bispos
foi organizado neste Instrumentum
Laboris de modo a favorecer o
confronto e o aprofundamento previsto durante os trabalhos da III Assembleia
Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos. Sem dúvida, a riqueza daquilo que
está contido nas respostas e nas observações é muito mais ampla de quanto aqui
exposto, com a finalidade de apresentar um primeiro ponto de referência para o
diálogo sinodal. No entanto, os três grandes âmbitos sobre os quais a Igreja
tenciona desenvolver o debate para chegar a indicações que correspondam às
novas perguntas presentes no povo de Deus são aqueles aqui evocados: o
Evangelho da família a ser proposto nas circunstâncias atuais; a pastoral
familiar a ser aprofundada face aos novos desafios; a relação generativa e
educativa dos pais em relação aos filhos.
159. Concluímos este itinerário, no qual entrevimos alegrias e
esperanças, mas também incertezas e sofrimentos nas respostas e nas observações
recebidas, voltando a beber nas fontes da fé, da esperança e da caridade:
confiamo-nos à Santíssima Trindade, mistério de amor absoluto, que se revelou
em Cristo e que nos foi participado através do Espírito Santo. O amor de Deus
resplandece de maneira peculiar na família de Nazaré, ponto de referência
seguro e de conforto de cada família. Nela refulge o amor verdadeiro para o
qual todas as nossas realidades familiares devem olhar para haurir luz, força e
consolação. À Sagrada Família de Nazaré desejamos confiar a III Assembleia
Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, com as palavras do Papa Francisco:
Jesus, Maria e José,
em vós nós contemplamos
o esplendor do amor verdadeiro,
e dirigimo-nos a vós com confiança.
Sagrada Família de Nazaré,
faz também das nossas famílias
lugares de comunhão e cenáculos de oração,
autênticas escolas do Evangelho
e pequenas igrejas domésticas.
Sagrada Família de Nazaré,
nunca mais nas famílias se viva a experiência
de violência, fechamento e divisão:
quem quer que tenha sido ferido ou escandalizado
conheça depressa a consolação e a cura.
Sagrada Família de Nazaré,
o próximo Sínodo dos Bispos
possa despertar de novo em todos a consciência
da índole sagrada e inviolável da família,
a sua beleza no desígnio de Deus.
Jesus, Maria e José,
ouvi e atendei a nossa súplica.
Amém.
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