segunda-feira, 8 de julho de 2013

ESPIRITUALIDADE - MODO EFICAZ DE REZAR

EXAME ESPIRITUAL DIÁRIO - Aprendendo a rezar a vida cotidiana.

Com frequência nos olhamos no espelho para conferir nosso visual; menos frequentemente fazemos um exame de sangue para averiguar a nossa saúde... E a nossa espiritualidade, como anda? Como vai a nossa fidelidade ao seguimento de Jesus, às promessas do nosso batismo, à vivência do amor a Deus e ao próximo?

Santo Inácio de Loiola (1491-1556), nas busca de uma espiritualidade adaptada às condições do homem moderno, desenvolveu os seus chamados Exercícios Espirituais, que constituem um caminho de oração e discernimento por meio do qual, em 30 dias, a pessoa pode melhor contemplar e conhecer Jesus Cristo e orientar a própria vida para a vivência do evangelho nas situações concretas do cotidiano.
Em seus Exercícios Espirituais, Santo Inácio propõe vários métodos de oração e meditação.

Entre eles, encontra-se o exame espiritual diário (EE 24-43), que consiste no hábito de rever a própria vida à luz do Espírito Santo, a fim de cuidarmos da obra de amor e santidade que Deus quer realizar em nós. A prática fiel do exame espiritual amplia nossa consciência sobre nosso projeto pessoal de vida e nos torna atentos para os pontos de crescimento e queda do nosso relacionamento com Deus, com os irmãos e com nós próprios. Trata-se de um modo bastante eficaz de rezar a própria história e deixar que Deus trabalhe nela, para transformá-la cada dia.

Santo Inácio nos dá as seguintes recomendações:

  • Logo de manhã, ao levantar-se, abrindo o coração para o auxílio do Espírito Santo, estabeleço um propósito para o meu dia: praticar um gesto de amor, evitar um vício, corrigir um defeito pessoal...
  • Em outro momento do dia (numa hora tranquila à tarde ou à noite), faço o exame espiritual propriamente dito, verificando munha fidelidade ao propósito firmado logo cedo.

a) Começo invocando o Espírito Santo, pedindo a sua luz para que eu possa me olhar com os olhos amorosos de Deus, reconhecendo a obra que ele deseja realizar em mim, assim como rejeitando as tentações e insinuações do mal. Essa invocação pode ser feita apenas mentalmente ou por meio de alguma repetição vocal. Pode-se pensar ou pronunciar suavemente a prece "Vem Espírito Santo" a cada expiração.
Pode-se também cantar um mantra, como "A nós descei, Divina Luz", "Ó Luz do Senhor, que vens sobre a terra, inunda meu ser permanece em nós", "Indo e vindo e vindo, trevas e luz, tudo é graça Deus nos conduz", "Vem, Espírito Santo, vem,vem iluminar" ou outro. É importante que o corpo esteja numa posição confortável e o ambiente tranquilo para a oração.

b) Agradeço a Deus pelo que aconteceu de bom em mim, na vida do meu próximo, no mundo, durante aquele dia.

c) Verifico o meu dia com os olhos da fé, repassando hora por hora desde o momento em que despertei:

  • recordo aquilo que mais me marcou: as consolações (alegria, paz, realização, motivos de esperança...) e as desolações (tristeza, frustração, medo, vazio...);
  • analiso as experiências vividas, procurando descobrir seus motivos e quais foram minhas reações (aceitação? passividade? recusa?);
  • medito se, em minhas reações, deixei-me mover pelo impulso de amor da graça de Deus.

d) Agradeço ou peço perdão ao Senhor pelo bem que fiz ou deixei de fazer.

e) Percebo aquilo que Ele me sugere interiormente, para que eu possa corrigir-me.

f) Proponho-me seguir essa sua inspiração e tomo uma resolução para o futuro, procurando permanecer fiel na prática da vontade de Deus. Vivo a alegria de confiar-me a ele e depositar nele minha esperança para as próximas horas.

g) Concluo com um Pai-Nosso.

Santo Inácio recomenda fazer uso de anotações para termos mais clareza de nosso estado espiritual - frequentemente, os pensamentos se confundem e se perdem. Ajuda, por exemplo, fazer uma tabela com quatro colunas, anotando o fato vivido, o sentimento (consolação, desolação), o motivo e a reação. Assim, vamos tendo também uma espécie de "relatório" de nossa dinâmica espiritual, para que possamos nos conhecer melhor e ter maior consciência de nossa vida interior.

Essa revisão de vida também pode ser feita utilizando algumas estratégias criativas, como repassar a própria vida observando:
a) os dez mandamentos (cf. Ex 20,2-17; Dt 5,6-21), confrontando cada um com as experiências vividas ao longo do dia;

b) as nove bem-aventuranças evangélicas (cf. Mt 5,3-12);

c) os cinco sentidos:

  • a visão (o que recebi pelos meus olhos hoje? Ao que fechei os olhos para não ver, mas deveria enxergar?);
  • a audição (o que ouvi de bom? A que coisas devo fechar ou abrir meus ouvidos?);
  • o tato (o que toquei hoje para fazer o bem? Com que intenção toquei as pessoas e as coisas hoje?;
  • o olfato (que 'aromas' estavam no ar hoje: bondade? malícia? Qual me agradou mais? o 'bom odor de Cristo? ou o cheiro do lobo em pele de ovelha?);
  • o gosto (como saboreei a ação de Deus em minha vida? Tive alguma desordem no comer ou no beber? Fui causa de gosto ou de desgosto para meus irmãos?);

d) os sete pecados capitais e as sete virtudes contrárias, examinando as ocasiões em que ocorreram durante o dia:

  • orgulho x humildade;
  • inveja x amor ao próximo;
  • ira x mansidão; 
  • preguiça x comprometimento; 
  • avareza x generosidade; 
  • luxúria x castidade; 
  • gula x autodomínio; 
e) as pessoas de nossa casa, de nosso trabalho, de nosso convívio diário;

f) as notícias que recebi durante o dia: o que fiquei sabendo que aconteceu com meus familiares e conhecidos, com pessoas de minha cidade, de minha paróquia, da minha comunidade e de outros países? O que posso fazer de concreto para ajudar, ainda que seja pouca coisa?

Reflexão: Você já fez algum exame da sua vida espiritual?
Com que frequência seria ideal realizar esse tipo de exame?

Fonte: Giovanne Marques Santos; O Catequista deixa-se conduzir pelo Espírito.
Revista Ecoando. Espiritualidade.

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