sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

CATEQUESE E SEXUALIDADE - FORMAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

Até certo tempo atrás, sexualidade não era assunto bem-vindo em meios católicos. Quando alguma pessoa mais "ousada" puxava conversa a respeito de sexo, as mais conservadoras ficavam coradas ou "olhavam com olho torto", porque a temática era revestida de certo incômodo e vista como um tabu. Embora todos tivessem interesse por assuntos relativos à sexualidade, poucos admitiam suas curiosidades e menos ainda pensavam que esses assuntos "combinavam" com religião.

Hoje isso é diferente, embora ainda haja bastante resistência e alas conservadoras que mantêm os preconceitos do passado. Em uma visão mais integrada da pessoa humana, entendemos que tudo aquilo que é humano, que se refere à vida do homem ou da mulher, tem seu lugar no conjunto de ensinamentos da Igreja Católica e, por conseguinte, na nossa catequese. Afinal, não educamos anjos, mas meninos e meninas, homens e mulheres que só o são por conta de sua sexualidade.

A sexualidade é um componente fundamental da personalidade, um modo de ser, de se manifestar, de se comunicar com os outros, de sentir, de expressar e de viver o amor humano. Ela "caracteriza o homem e a mulher não somente no plano físico, como também no psicológico e espiritual, marcando toda a sua expressão. Esta diversidade, que tem como fim a realização de cada pessoa e a complementaridade dos sexos, permite responder plenamente ao desígnio de Deus conforme vocação à qual cada um é chamado" (Orientações Educativas sobre o Amor Humano, n.5. Sagrada Congregação para a Educação Católica, 1983).

A sexualidade é uma dimensão inerente ao ser humano; é um "jeito" de estar no mundo, de ser pessoa, se relacionar com o outro e com Deus. Em tudo aquilo que sentimos, pensamos, dizemos e fazemos, expressamos nossa condição de ser sexuado. Ela está presente no nosso jeito de falar, de andar, de sentir, de amar e de agir. Não podemos reduzi-la aos órgãos genitais masculinos e femininos, mas devemos olhar o todo que a constitui: fatores morfológicos (genitais), fisiológicos (hormonais), neurológicos, genéticos, psicológicos, espirituais, culturais, familiares, ambientais etc.

Podemos dizer que as raízes da sexualidade estão no biológico (hormônios, caracteres sexuais, configuração corporal, interesse em relações), mas é um complexo que envolve emoções, pensamentos, costumes, cultura etc. A própria sociedade é sexual. Basta pensar no que acontece em uma família quando se espera a chegada de um bebê: os adultos logo querem saber o sexo e, a partir daí, já definem o que a futura criança vai vestir, de que cor será seu quarto, como deverá se comportar, o que poderá ser quando crescer. Por isso, reafirmamos que, para muito além dos órgãos genitais, a sexualidade está no modo como a pessoa se posiciona diante de si mesmo, dos outros e da vida. Desse modo, ser homem, mulher ou homossexual determina fundamentalmente as decisões que a pessoa vai tomar, como se comportará, de que maneira reagirá aos desafios da vida, que tipo de leitura poderá fazer dos acontecimentos, como se relacionará com os seus semelhantes etc.

A sexualidade é diferente em cada idade e vai se configurando nas etapas do desenvolvimento psicoevolutivo: infância, puberdade, juventude, idade adulta, terceira idade. Daí se depreende que a pessoa nunca perde sua sexualidade, pois assim deixaria de existir, mas ela vai assumindo feições diferentes em cada época da vida, de acordo com o nível de maturidade, interesses etc.

O que humaniza a sexualidade é o esforço que fazemos para dar-lhe um significado positivo e para que ela seja linguagem desse significado. Mas isso só é possível se ela for integrada numa perspectiva mais ampla: a do projeto que assumimos para nos realizarmos como pessoas que querem amar e ser amadas. O amor pode ser assumido como o sentido de todo projeto de vida e, até mesmo, como o projeto de vida por excelência. Daí surge a importância de aprofundar essa dimensão tão essencial da vida humana, à luz da verdade sobre o ser humano a partir do projeto criador de Deus, e tirar as consequências necessárias para a vida cristã e o trabalho pastoral, sobretudo no campo da catequese, que se propõe educar os cristãos para a maturidade da fé, da esperança e do amor.

Sendo assim, não é possível falarmos de uma sexualidade madura se a separarmos da afetividade. Porque somos pessoas, sentimos a necessidade de amar e ser amados. Infelizmente já forte tendência em nossa sociedade atual de separar os atos sexuais do amor, do afeto, do comprometimento com o outro. E na medida em que o exercício da sexualidade se distancia da experiência de ser amado e de amar, ele perde seu significado principal.

Os parceiros são, com frequência, transformados em meros objetos de prazer  e de uso, e na maioria das vezes são descartados. A moda do "ficar", por exemplo, muito comum no meio adolescente e jovem, revela vem essa tendência. Por conta de uma mentalidade que relativiza tudo, não se fixa em nada nem em ninguém, em nome do direito de experimentar o outro antes de se vincular a ele, pessoas são postas em um interminável "leilão afetivo" e, não raro, são machucadas ou machucam os outros.

Na catequese as questões ligadas à sexualidade estão presentes em todos os momentos: na maneira como meninos e meninas se comportam e se relacionam, nas crises e dramas próprios da explosão adolescente da sexualidade, nas questões éticas que os jovens trazem ou precisam discutir, tais como namoro, noivado, relações sexuais, geração de filhos, papéis sociais, preconceitos de gênero (machismo, feminismo, homofobias etc), na maneira como se concebe o "rosto" de Deus (Deus é pai ou é mãe) etc.
Desse modo, não é possível ser catequista e fazer catequese sem considerar a vida sexual que pulsa em cada um de nós.
Fonte: Pe. Vanildo de Paiva
em: O catequista Aprende a Conviver.


Nenhum comentário:

Postar um comentário