FORMAÇÃO
PARA CATEQUISTAS DA INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ
AS
BASES DA METODOLOGIA DA INICIAÇÃO
“Método” é “o caminho
para” se chegar a determinado resultado.
“Metodologia” é o
estudo do método, incluindo os princípios, os fundamentos e os procedimentos.
Não vamos, aqui, nos
deter em métodos específicos, estratégias de ensino e aprendizagem, uso de
recursos didáticos concretos, dinâmicas. Queremos focar a atenção nos
princípios que estão na base da concepção da Iniciação Cristã e, consequentemente,
da sua condução. A metodologia mergulha fundo, enxerga longe e examina o
terreno por todos os lados para poder dar o passo certo na hora certa e na
direção certa.
Priorização
dos adultos
A
catequese tradicional supunha a fé dos adultos, transmitida pela família e pela
sociedade, consideradas cristãs. As crianças, em preparação à Primeira
Comunhão, recebiam uma catequese nocional, abstrata, desvinculada da vida e da
liturgia. Tal catequese devia servir para a vida toda. A “mudança de época” que
estamos vivendo exige que o foco da Iniciação seja posto no adulto. Como na
Igreja antiga, a Iniciação Cristã dos adultos deverá ser o paradigma de toda a
Iniciação e da Iniciação toda.
Evidentemente,
não se pode deixar de levar em conta a situação de jovens e adultos que foram
batizados quando criança e não completaram a Iniciação com o sacramento da
Crisma e/ou da Eucaristia. Para esses, é preciso pensar um itinerário próprio,
levando em conta, sob o aspecto litúrgico, o que o IV capítulo do RICA prevê. As
Diretrizes da Iniciação Cristã da Arquidiocese do Rio de Janeiro, por exemplo,
apresentam uma proposta interessante para essa situação.
Predomina
ainda, em nossa realidade pastoral, a Iniciação por etapas: Batismo de
crianças, Primeira Comunhão de adolescentes e Crisma de jovens. Essa modalidade
de Iniciação terá que se adequar o mais possível – respeitada integralmente a
diversidade de situação – ao caminho da Iniciação Cristã de adultos, que é o
paradigma de toda a Iniciação. Há vários esforços nesse sentido.
A
respeito dessas situações, esclarece Aparecida: “A Iniciação Cristã,
propriamente falando, refere-se à primeira Iniciação nos mistérios da fé, seja
na forma de catecumenato batismal para os não batizados, seja na forma de
catecumenato pós-batismal para os batizados não suficientemente catequizados.
Esse catecumenato está intimamente unido aos sacramentos da Iniciação –
Batismo, Confirmação e Eucaristia -, celebrados solenemente na Vigília Pascal.
Teríamos que distinguir, portanto, de outros processos catequéticos e
formativos que podem ter a Iniciação Cristã como base”. (DAp, n.288).
Necessidade
do “primeiro anúncio”
O
primeiro anúncio ou anúncio missionário ou querigma deve estar presente em
todas as formas de catequese e em todas as atividades eclesiais. Não se pode
supor que as pessoas já tenham vivido sua experiência de encontro com o Deus de
Jesus, tenham dado sua primeira e global adesão a ele, partilhem os valores,
tenham incorporado as atitudes e os comportamentos cristãos.
O
“primeiro anúncio” tem justamente a finalidade de suscitar a fé em Cristo como
resposta essencial às mais profundas fomes e às insaciáveis sedes do ser
humano, dando sentido e rumo à sua existência, abrindo-lhe horizontes
insustentáveis.
Evidentemente,
o “primeiro anúncio” não é ação descontextualizada e isolada. No processo
evangelizador, o “primeiro anúncio” supõe a presença dos cristãos e cristãs na
vida comum das pessoas, dos grupos, das comunidades e da sociedade. Não pode
cair do céu como um paraquedas ou um meteoro.
Além
disso, ou vem de braço dado com o testemunho ou é escândalo, pedra de tropeço,
no caminho da fé. “O testemunho é a forma mais perfeita de evangelização”,
escreveram os bispos do Brasil nas Diretrizes Gerais 1992-1996. E, se não for
acompanhado de atitudes de serviço, diálogo, comunhão – pessoais, comunitários
e institucionais – o primeiro anúncio é inútil e nocivo, enquanto provém de uma
Igreja que nega com a vida aquilo que anuncia.
Integralidade
A
Iniciação é um processo cujo ponto de partida é o encontro pessoal de alguém
com Jesus Cristo e cujo ponto de chegada é a inserção, como discípulo e
missionário, no mistério pascal de Cristo e na comunidade cristã, enriquecida
por uma variedade de carismas, toda ela a serviço da missão de Cristo no mundo.
A conjugação entre palavra, liturgia e vida, de um lado, e a celebração
conjunta dos sacramentos da Iniciação, do outro, exprimem a unidade do Mistério
cristão e a unidade da vida cristã, cujas estruturas existenciais fundamentais
são a fé, a esperança e a caridade.
Itinerário
de formação
A
Iniciação oferece uma formação integral, ou seja, o aprofundamento do encontro
com o Cristo vivo, mediante a acolhida e o encontro com os irmãos e irmãs de
fé, a meditação da Palavra, a celebração do ministério ao longo do ano litúrgico, ajudando o candidato a responder, pela
graça, aos apelos à conversão permanente. Para tanto, a estrutura do RICA
proporciona um caminho permanente. Para tanto, a estrutura do RICA proporciona
um caminho concreto de formação cristã integral, com seus tempos e etapas.
Processualidade
e progressividade
A
Iniciação é um processo complexo, lento e progressivo. A totalidade do ser
humano é interpelada nesse processo. O princípio da progressividade permeia as
orações e os ritos preparatórios e sustenta a qualidade do processo educativo.
A iniciativa humana vai sendo transformada pela graça divina.
Passo
a passo, o candidato é introduzido na Igreja, povo de Deus, corpo de Cristo,
templo do Espírito. Vai de um compromisso pequeno a outro maior. A escuta da
Palavra, calando no silêncio do coração, provoca mudança de costumes e solicita
a prática de costumes e solicita a prática de boas obras. Passa-se, com
sabedoria materna, do leite a alimento mais sólido (cf. 1Cor 3,2),
respeitando-se o ritmo do crescimento de cada um!
Conectividade
A
catequese tradicional era fragmentária, dissociada da liturgia, além de
indiferente às estruturas e necessidades do sujeito e às particularidades do
seu contexto.
A metodologia catecumenal,
por seu turno, articula três componentes
básicos. Uma catequese apropriada,
em etapas, ritmada pelo ano litúrgico, apoiada em várias celebrações, de modo
que os candidatos cheguem à íntima percepção do mistério da salvação e à adesão
pessoal e plena ao mesmo. Uma articulação
entre anúncio do mistério, ação celebrativa e vida, de modo que a graça,
presente e atuante na Palavra anunciada, na celebração e na vida, vá edificando
o cristão. Uma atenção às disposições
interiores, em que se debatem forças contraditórias, em meio às quais o
candidato vai adquirindo maturidade espiritual e capacidade de discernimento:
processo de conversão, que, de um lado, significa luta contra o pecado e, de
outro, crescimento na fé, na esperança e na caridade.
Caráter
experiencial
O
querigma e o processo iniciático como um todo visam suscitar e desenvolver uma
experiência pessoal profunda de fé, com todas as suas consequências. A proposta
cristã é uma experiência de amor, o encontro da totalidade do ser humano com
Deus-Amor-Trindade, mistério insondável de vida e comunhão.
Embora
a experiência seja, em última análise, intransferível não é possível suscitá-la
em outro sem ter passado por ela e sem ser por ela sustentado. Paulo não seria
o maior evangelizador de todos os tempos sem a reviravolta provocada pela
experiência de Damasco (cf.Gl 1,15-16; At 9,3-19).
Sem
a experiência pessoal e comunitária, a revelação seria letra morta, a fé da
Igreja mera aceitação de um sistema de verdades, a interpretação do magistério
um peso intolerável.
Dimensão
Comunitária
A
Iniciação envolve, ainda que diferencialmente, toda a comunidade. Depende dos
cristãos e cristãs que, nas mais variadas situações de vida, testemunham o
Evangelho e anunciam Jesus de maneira significativa, pertinente e relevante.
Desde
os tempos antigos, os iniciados gozam do direito a um padrinho e/ou madrinha.
No seio da comunidade, que, como mãe, gera novos filhos e filhas de Deus,
padrinhos e madrinhas são pequenos “pais” e “mães” daqueles que “não foram
gerados nem pelo sangue, nem de uma vontade da carne, nem de uma vontade do
homem, mas de Deus” (Jo 1,13). Encaminhando o simpatizante à comunidade e
acompanhando vida afora o iniciado, hoje são mais necessários do que nunca.
Introdutores
ou acompanhantes têm papel decisivo. A experiência tem mostrado que esse
acompanhamento pessoal, diuturno, próximo, amigo é o “grande segredo” da
Iniciação.
Além
disso, diversos ministérios ordenados e não ordenados exprimem o serviço que a
comunidade toda presta àqueles que se aproximam dela para se tornarem um com
ela e um com Cristo.
Os
símbolos, os gestos, os ritos, as celebrações litúrgicas, realizados pelo
conjunto da comunidade eclesial vão introduzindo o catecúmeno no mistério, na
vida e na missão da Igreja.
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