quarta-feira, 3 de abril de 2013

AS BASES DA METODOLOGIA DA INICIAÇÃO - Formação Catequistas


FORMAÇÃO PARA CATEQUISTAS DA INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ

AS BASES DA METODOLOGIA DA INICIAÇÃO

“Método” é “o caminho para” se chegar a determinado resultado.
“Metodologia” é o estudo do método, incluindo os princípios, os fundamentos e os procedimentos.
Não vamos, aqui, nos deter em métodos específicos, estratégias de ensino e aprendizagem, uso de recursos didáticos concretos, dinâmicas. Queremos focar a atenção nos princípios que estão na base da concepção da Iniciação Cristã e, consequentemente, da sua condução. A metodologia mergulha fundo, enxerga longe e examina o terreno por todos os lados para poder dar o passo certo na hora certa e na direção certa.

Priorização dos adultos

A catequese tradicional supunha a fé dos adultos, transmitida pela família e pela sociedade, consideradas cristãs. As crianças, em preparação à Primeira Comunhão, recebiam uma catequese nocional, abstrata, desvinculada da vida e da liturgia. Tal catequese devia servir para a vida toda. A “mudança de época” que estamos vivendo exige que o foco da Iniciação seja posto no adulto. Como na Igreja antiga, a Iniciação Cristã dos adultos deverá ser o paradigma de toda a Iniciação e da Iniciação toda.
Evidentemente, não se pode deixar de levar em conta a situação de jovens e adultos que foram batizados quando criança e não completaram a Iniciação com o sacramento da Crisma e/ou da Eucaristia. Para esses, é preciso pensar um itinerário próprio, levando em conta, sob o aspecto litúrgico, o que o IV capítulo do RICA prevê. As Diretrizes da Iniciação Cristã da Arquidiocese do Rio de Janeiro, por exemplo, apresentam uma proposta interessante para essa situação.
Predomina ainda, em nossa realidade pastoral, a Iniciação por etapas: Batismo de crianças, Primeira Comunhão de adolescentes e Crisma de jovens. Essa modalidade de Iniciação terá que se adequar o mais possível – respeitada integralmente a diversidade de situação – ao caminho da Iniciação Cristã de adultos, que é o paradigma de toda a Iniciação. Há vários esforços nesse sentido.
A respeito dessas situações, esclarece Aparecida: “A Iniciação Cristã, propriamente falando, refere-se à primeira Iniciação nos mistérios da fé, seja na forma de catecumenato batismal para os não batizados, seja na forma de catecumenato pós-batismal para os batizados não suficientemente catequizados. Esse catecumenato está intimamente unido aos sacramentos da Iniciação – Batismo, Confirmação e Eucaristia -, celebrados solenemente na Vigília Pascal. Teríamos que distinguir, portanto, de outros processos catequéticos e formativos que podem ter a Iniciação Cristã como base”. (DAp, n.288).

Necessidade do “primeiro anúncio”

O primeiro anúncio ou anúncio missionário ou querigma deve estar presente em todas as formas de catequese e em todas as atividades eclesiais. Não se pode supor que as pessoas já tenham vivido sua experiência de encontro com o Deus de Jesus, tenham dado sua primeira e global adesão a ele, partilhem os valores, tenham incorporado as atitudes e os comportamentos cristãos.
O “primeiro anúncio” tem justamente a finalidade de suscitar a fé em Cristo como resposta essencial às mais profundas fomes e às insaciáveis sedes do ser humano, dando sentido e rumo à sua existência, abrindo-lhe horizontes insustentáveis.
Evidentemente, o “primeiro anúncio” não é ação descontextualizada e isolada. No processo evangelizador, o “primeiro anúncio” supõe a presença dos cristãos e cristãs na vida comum das pessoas, dos grupos, das comunidades e da sociedade. Não pode cair do céu como um paraquedas ou um meteoro.
Além disso, ou vem de braço dado com o testemunho ou é escândalo, pedra de tropeço, no caminho da fé. “O testemunho é a forma mais perfeita de evangelização”, escreveram os bispos do Brasil nas Diretrizes Gerais 1992-1996. E, se não for acompanhado de atitudes de serviço, diálogo, comunhão – pessoais, comunitários e institucionais – o primeiro anúncio é inútil e nocivo, enquanto provém de uma Igreja que nega com a vida aquilo que anuncia.

Integralidade

A Iniciação é um processo cujo ponto de partida é o encontro pessoal de alguém com Jesus Cristo e cujo ponto de chegada é a inserção, como discípulo e missionário, no mistério pascal de Cristo e na comunidade cristã, enriquecida por uma variedade de carismas, toda ela a serviço da missão de Cristo no mundo. A conjugação entre palavra, liturgia e vida, de um lado, e a celebração conjunta dos sacramentos da Iniciação, do outro, exprimem a unidade do Mistério cristão e a unidade da vida cristã, cujas estruturas existenciais fundamentais são a fé, a esperança e a caridade.

Itinerário de formação

A Iniciação oferece uma formação integral, ou seja, o aprofundamento do encontro com o Cristo vivo, mediante a acolhida e o encontro com os irmãos e irmãs de fé, a meditação da Palavra, a celebração do ministério ao longo do ano litúrgico, ajudando o candidato a responder, pela graça, aos apelos à conversão permanente. Para tanto, a estrutura do RICA proporciona um caminho permanente. Para tanto, a estrutura do RICA proporciona um caminho concreto de formação cristã integral, com seus tempos e etapas.

Processualidade e progressividade

A Iniciação é um processo complexo, lento e progressivo. A totalidade do ser humano é interpelada nesse processo. O princípio da progressividade permeia as orações e os ritos preparatórios e sustenta a qualidade do processo educativo. A iniciativa humana vai sendo transformada pela graça divina.
Passo a passo, o candidato é introduzido na Igreja, povo de Deus, corpo de Cristo, templo do Espírito. Vai de um compromisso pequeno a outro maior. A escuta da Palavra, calando no silêncio do coração, provoca mudança de costumes e solicita a prática de costumes e solicita a prática de boas obras. Passa-se, com sabedoria materna, do leite a alimento mais sólido (cf. 1Cor 3,2), respeitando-se o ritmo do crescimento de cada um!

Conectividade

A catequese tradicional era fragmentária, dissociada da liturgia, além de indiferente às estruturas e necessidades do sujeito e às particularidades do seu contexto.
A metodologia catecumenal, por seu turno, articula três componentes básicos. Uma catequese apropriada, em etapas, ritmada pelo ano litúrgico, apoiada em várias celebrações, de modo que os candidatos cheguem à íntima percepção do mistério da salvação e à adesão pessoal e plena ao mesmo. Uma articulação entre anúncio do mistério, ação celebrativa e vida, de modo que a graça, presente e atuante na Palavra anunciada, na celebração e na vida, vá edificando o cristão. Uma atenção às disposições interiores, em que se debatem forças contraditórias, em meio às quais o candidato vai adquirindo maturidade espiritual e capacidade de discernimento: processo de conversão, que, de um lado, significa luta contra o pecado e, de outro, crescimento na fé, na esperança e na caridade.

Caráter experiencial

O querigma e o processo iniciático como um todo visam suscitar e desenvolver uma experiência pessoal profunda de fé, com todas as suas consequências. A proposta cristã é uma experiência de amor, o encontro da totalidade do ser humano com Deus-Amor-Trindade, mistério insondável de vida e comunhão.
Embora a experiência seja, em última análise, intransferível não é possível suscitá-la em outro sem ter passado por ela e sem ser por ela sustentado. Paulo não seria o maior evangelizador de todos os tempos sem a reviravolta provocada pela experiência de Damasco (cf.Gl 1,15-16; At 9,3-19).
Sem a experiência pessoal e comunitária, a revelação seria letra morta, a fé da Igreja mera aceitação de um sistema de verdades, a interpretação do magistério um peso intolerável.

Dimensão Comunitária

A Iniciação envolve, ainda que diferencialmente, toda a comunidade. Depende dos cristãos e cristãs que, nas mais variadas situações de vida, testemunham o Evangelho e anunciam Jesus de maneira significativa, pertinente e relevante.
Desde os tempos antigos, os iniciados gozam do direito a um padrinho e/ou madrinha. No seio da comunidade, que, como mãe, gera novos filhos e filhas de Deus, padrinhos e madrinhas são pequenos “pais” e “mães” daqueles que “não foram gerados nem pelo sangue, nem de uma vontade da carne, nem de uma vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1,13). Encaminhando o simpatizante à comunidade e acompanhando vida afora o iniciado, hoje são mais necessários do que nunca.
Introdutores ou acompanhantes têm papel decisivo. A experiência tem mostrado que esse acompanhamento pessoal, diuturno, próximo, amigo é o “grande segredo” da Iniciação.
Além disso, diversos ministérios ordenados e não ordenados exprimem o serviço que a comunidade toda presta àqueles que se aproximam dela para se tornarem um com ela e um com Cristo.
Os símbolos, os gestos, os ritos, as celebrações litúrgicas, realizados pelo conjunto da comunidade eclesial vão introduzindo o catecúmeno no mistério, na vida e na missão da Igreja.

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