Educação em valores
“Educar
é mais do que instruir é construir o homem e o mundo”.
Madre Maria Helena
Cavalcanti
I -
Educar
Conceito - É o desenvolvimento do ser humano
em suas faculdades sensitivas, intelectuais e volitivas ( EXPLICAR), de modo
que aprenda a viver em harmonia consigo mesmo e no seu contexto
histórico-cultural.
O Documento Gravissimus Educationis acrescenta: “A
verdadeira educação, porém, pretende a formação da pessoa humana em ordem ao
seu fim último e, ao mesmo tempo, ao bem das sociedades de que o homem é membro
e em cujas responsabilidades, uma vez adulto, tomará parte.” GE 1
II - Como educar em valores
à
Os valores devem ser considerados de maneira
central e sistemática na ação educativa pelo lugar que ocupam na realização da
pessoa e no desenvolvimento da personalidade humana, considerando ainda a crise
de identidade que o mundo se encontra. Não se pode viver sem valores nem tão
pouco educar sem eles.
Em
que valores educar? Tudo depende do tipo de ser humano que quero formar. Por isto
é importante a conscientização da escola e do corpo docente do que estão
fazendo em sua prática educativa com relação aos valores. Uma escola
orientada para a formação de cidadãos, para uma sociedade justa e solidária tem
que estar consciente dos meios que utiliza.
A
liberdade é um dos valores mais importantes no ser humano. O ser
humano pode ser educado porque é livre e pode ser livre porque foi educado;
só se educa o homem libertando-o; só se
liberta o homem educando-o.
A
educação em valores requer uma metodologia complexa que leva em conta desde os
estímulos valorativos que se oferecem ao estudante até a reflexão sobre o ser
humano e seu destino. O método de esclarecimento de valores
contribuiu para destacar a necessidade de que o estudante identifique e
reconheça quais são os seus e que desenvolva outros valores.
A
técnica de esclarecimento dos valores pode contribuir muito para a formação do
homem:
É um subsídio direto para o processo de
valorização e, portanto para a busca da própria identidade;
Responde à necessidade de interação e de
diálogo na busca de valores;
Fundamenta-se num profundo respeito à
dignidade e ao valor da própria pessoa;
É um caminho de aproximação entre os homens,
e ao mesmo tempo favorece a atitude de dar sentido e valor às mediações
oferecidas pelo meio, o que leva a uma atitude crítica e criativa.
“Valor
é, portanto, a convicção pensada e firme
de que algo é bom e que nos convém em maior ou menor grau. Essas convicções se
organizam em nosso psiquismo em forma de uma escala de preferências (escala de
valores).”Ciriaco Izquierdo Moreno
III – Princípios e fundamentos
O
tema dos valores faz parte do nosso ser mais profundo, da nossa íntima
realidade, é um componente indispensável
do nosso ser pessoas. Os valores morais são elementos que constituem a nossa
realidade pessoal.Com base nos valores morais, podemos ordenar os outros
valores de maneira ajustada às exigências do nosso ser enquanto pessoa, os
valores agem como integradores e não como substitutos. Os valores dignificam,
enobrecem e dinamizam nossa ação e nossa vida.
Diante
do mundo complexo em que vivemos, a família e a sociedade não podem omitir-se
deixando a responsabilidade para a escola, nem a escola deve aceitar a tarefa
da formação moral à margem da realidade familiar e social. Para isto é
necessário compreensão, interação, discernimento e colaboração.
O
ambiente familiar é o clima mais propício para se conseguir uma educação em
valores, uma educação integral, tendo como base a formação moral e religiosa
que se projetará em um desenvolvimento harmonioso e coerente da personalidade,
em uma valorização profunda do sentido da família no mundo atual e em uma
integração perfeita na vida social. A educação em valores deve ser uma educação
progressiva e gradual até adquirir uma responsabilidade na auto-realização,
autodeterminação e liberdade, tanto pessoal como social. É ajudar o
desenvolvimento e a afirmação do caráter próprio da humanidade e de cada
indivíduo.
A
crise moral provocada pela cultura da modernidade ou pós-modernidade: Às vezes
de maneira exagerada destacam-se o individualismo e a liberdade pessoal e
incentiva-se uma espécie de sacralização do eu, cujos ídolos mais adorados revestem-se de consumismo, hedonismo, erotismo
e facilismo. Desprezam-se a dor, o sacrifício e os
compromissos e exaltam-se o leve (light) e o prazer imediato. Valorizam-se a
competição, o poder e o dinheiro que não se considera mais a pessoa por aquilo
que é (sentimentos, ideais), mas pelo que tem e pode. Para muitas pessoas o
grande drama da vida é não saber o que é verdade.
É nossa responsabilidade analisar no próprio
meio até que ponto a personalidade e o comportamento dos nossos jovens estão
impregnados e influenciados por essa cultura, para oferecer-lhes uma ajuda mais
eficaz em seu processo educativo.
IV - O papel do Ensino Religioso
“É hora de cada um se
perguntar: diante da realidade atual que direção vou dar à minha missão de
educador? Principalmente de educador da fé . Não adianta possuir o mapa da
cidade se não sei aonde quero ir.” Madre
Maria Helena Cavalcanti
A
pedagogia de nossa Madre se baseia no salmo 118,66:
“Senhor
ensina-me a bondade, a ciência e a disciplina.”
Segundo
nossa Mãezinha: “Esses três ingredientes: bondade, ciência e disciplina numa
relação equilibrada constituem uma sábia receita de formação da personalidade.
Vejamos: a bondade sem ciência é às vezes uma boa intenção sem bons resultados
pois as luzes do conhecimento evitam muitos males da ignorância. Por sua vez a
ciência, o conhecimento sem a bondade às vezes se transforma em arrogância,
incompreensão e intolerância.
A
bondade sem a disciplina pode degenerar em fraqueza, permissividade. Até as
plantas precisam ser disciplinadas. Todavia a disciplina não pode ser encarada
como algo que oprime e reprime, mas uma canalizadora das energias positivas.
Não basta ter boa vontade, auto controle, auto domínio. É preciso ter força de
vontade. Edson quando o elogiavam dizia: para 1 % de talento acrescento 99 de
esforço. Tagore acrescenta: ‘O homem foi feito para superar-se.’
Por
outro lado a disciplina sem a bondade é tirania: sufoca a criatividade e a
espontaneidade.
Trabalhemos para
possuir uma bondade esclarecida, um conhecimento humilde, sem preconceitos e
uma disciplina amorosa.”
Tendo como base os
mesmos ‘ingredientes’ citados anteriormente poderíamos descrever um pequeno
projeto de educação em valores:
Bondade
-
A verdadeira educação em valores deve ajudar o ser humano a viver todos
os problemas com segurança e confiança, de maneira que, por sua vivência e
bem-fazer, as riquezas salvadoras do Evangelho apareçam como metas e ideais
normativos de sua vida. “Só Deus é bom” No relacionamento do homem com Deus,
com o mundo e consigo mesmo, podemos trabalhar três verbos: crer , rezar e
amar.
CRER
–
Mãezinha continua: “Um julgamento isento mostra que nunca a inteligência
humana separada de deus enxergou melhor. A razão nos leva ao vestíbulo da fé e
é a própria fé ‘que nos ensina a dignidade da inteligência e a importância
prodigiosa das idéias’.
A
essência do ser humano de hoje, de ontem e de amanhã é a essência do homem
eterno, feito á imagem e semelhança de Deus’ Gen 1,26, portanto capaz de
conhecê-lo.
‘A
fé que se fundamenta no testemunho de deus e conta com a ajuda sobrenatural da
graça, pertence efetivamente a uma ordem de conhecimento diversa do
conhecimento filosófico’ (João Paulo II – FR 9).
O
cristão vive de fé. O justo vive de fé’ Rm 1,17. Olha tudo pelo ângulo
da fé e reage no seu tom. Transfigura o mundo com seu olhar de fé. Na
obscuridade da fé toma por lanterna para seus passos a palavra de deus.
‘O
homem se encontra num caminho de busca humanamente infindável: busca da Verdade
e busca duma pessoa em que possa confiar. A fé cristã vem em sua ajuda
dando-lhe a possibilidade concreta de ver realizado o objetivo dessa busca.
Em
Jesus Cristo, que é a Verdade, a fé reconhece o apelo último dirigido à
humanidade para que possa tornar realidade o que experimenta como desejo e
nostalgia’ João Paulo II – FR 33.
Quem crê também sabe
que a fraternidade é possível e está disposto a pagar o seu preço, superando
todo o egoísmo.”
ORAR – São
numerosas as passagens do Evangelho em que Nosso Senhor exorta à oração. Diz o
Santo Padre:
“Rezar
é tão importante que o próprio Jesus nos diz: “Vigiai e orai” Lc 21,36. ...
Ele quer que rezemos para obtermos luz e força. É na oração que chegamos a
conhecer a Deus: a descobrir sua presença na nossa alma, sentir Sua voz que
fala através da nossa consciência e assumir a responsabilidade pessoal pela
nossa vida e pelo nosso mundo” (João Paulo II).
Para
Deus ninguém é anônimo pois ao nos criar com amor totalmente gratuito chama
cada um de nós pelo seu nome. Na oração nós lhe respondemos.
AMAR – “Amai-vos uns aos
outros como eu vos amei” Jo 15,12
O
sentimento pode conter e facilitar o amor, mas o amor não se reduz e não se
esgota em sentimento. Quando nos atraímos ou nos afastamos num relacionamento
puro sentimento. O amor é querer o bem do outro sem troca. Amar não é apenas
desejo é ação. Jesus Cristo nos amou e entregou toda a sua vida por nó. Amar
para tirar vantagem não é amor, é egoísmo. Levamos o outro a viver em Deus
amando-º Quando alguém se depara com o amor se depara com Deus.
Conhecimento –
Permitir ao educando o crescimento de conhecimento que favoreça uma faculdade
crítica que leve a reflexão sobre a sociedade em que vivemos e sobre seus
valores, preparando os futuros adultos para abandonarem esses valores quando
não favorecerem a justiça para todos. Para isto é necessário ensinar a pensar.
PENSAR
– “ ‘Aprender a pensar, eis o princípio da moral’ disse Pascal.
Pensar é mais do que acumular conhecimentos, mais do que ser erudito. Pensar é
refletir, é buscar a Verdade, é saber ler nos acontecimentos da História, da
vida, da natureza. É saber relacionar os fatos e tirar conclusões . É aprender
a viver por motivos e não por emoções.
À
s vezes ensinamos o que as crianças e os jovens devem pensar, mas omitimos algo
muito importante: como devem pensar.
‘O
ato de pensar qualifica o homem no seio da criação. É pensando que ele pode corresponder
da melhor forma à tarefa que lhe foi confiada pelo Criador’.João Paulo II –
l’Osservatore romano 21-11-98.
Disciplina – Nossa
Madre nos diz: ‘Os valores morais não podem ser colocados em segundo
plano no projeto educacional. Sócrates sempre ligou a sabedoria à virtude. O
educador pelo seu exemplo e incentivo ajudará o discípulo a canalizar a
agressividade tão inerente ao ser humano para domínio de seus impulsos e
paixões negativas, para as corajosas escaladas morais e para a abertura
fraterna. Precisamos aprender a evitar os confrontos e a caminhar lado a lado
com confiança, consideração, respeito, benevolência, auxílio mútuo,
solidariedade, doçura’.
Na tarefa da educação
em valores no que se refere à disciplina outros verbos se nos apresentam: Ser e
trabalhar.
SER
–
O ser humano existe para amar e respeitar os outros. Todavia esses valores
estão colocados em uma escala. É o caos que vivemos todos os dias: seqüestros,
fome, assaltos, guerra de todos os tipos. Descaso á tudo que seria direito do homem;
educação, saúde, moradia, trabalho, lazer. Um profissional que não realiza bem
a sua tarefa falta com o respeito ao próximo, e conseqüentemente não tem
consciência do valor do ser humano.
A
pessoa humana é o centro da criação, tudo adquire valor em função dela. Ela é
capaz de pensar e querer, ela é além de matéria, espírito. A dignidade da
pessoa está, na capacidade de participar da natureza divina: inteligência e
vontade. Gn 1, 26.
Isto
dá valor divino ao homem. De modo que, respeitar a pessoa é respeitar a Deus,
desrespeitar a pessoa é desrespeitar a Deus. I Jo 4,20
Pecar
é ofender a Deus ofendendo a pessoa humana.
Só
Deus dá ao homem a capacidade de viver como homem.
Adquirir
Virtudes – no relacionamento humano em geral a estima das pessoas
com os outros é determinada mais por aquilo que eles têm do que por aquilo que
eles são. A cultura do ter ao invés do ser.
O
que dá dignidade é ser pessoa humana e ter o comportamento digno de pessoa. Ter
um comportamento digno é ser virtuoso. A virtude é a disponibilidade habitual
de fazer o bem. Como se adquire a facilidade de fazer algo? Só colocando em
prática habitualmente. O cantor, o motorista, a cozinheira.... só a prática de
cada dia os faz verdadeiros profissionais.
As
virtudes fundamentais que devemos ter para fazer o bem se resumem em quatro:
à
Prudência –
leva-nos a escolher os meios adequados.
à
Justiça –
nos faz respeitar os direitos dos outros.
à Fortaleza –
dá a capacidade de enfrentar sem medo as dificuldades que encontramos.
à
Temperança –
nos permite evitar os excessos.
Essas
virtudes também chamamos de valores, pois são disposições valiosas e
indispensáveis para viver no bem, por serem fundamentais abrangem outras
virtudes nas quais se completam.
No
conhecimento e na prática destas virtudes está a sabedoria do homem, através
delas viverá a vocação que é amar e conseguirá a felicidade que tanto deseja.
O
ter contribui para o nosso bem na medida que é fruto de ser e nos ajuda a
sermos cada vez mais.
Quando morremos só
levamos o amor que vivemos.
TRABALHAR
–
“O trabalho constitui uma dimensão fundamental da existência do homem sobre a
terra” LE 11,4 – João Paulo II.
“Trabalhar
é participar da contínua criação do Universo, é integrar-se e solidarizar-se
com toda a humanidade. É evitar a atitude de espectador que não é seguida pela
ação. Criticar é fácil. Construir é difícil. É não apenas reclamar diante do
mal, mas repudiar a neutralidade, o comodismo, a indiferença e despertar para o
sentido de responsabilidade.
“O
trabalho é o amor em ação.”
Só assim construiremos
um país melhor, mais justo, mais próspero, um mundo novo: na justiça, na
solidariedade, na caridade, na simplicidade e na paz.
Diante
da crise de valores vivida pela sociedade o ensino religioso precisa lançar
através de Jesus Cristo e do seu Evangelho, a mensagem da civilização do amor,
uma mensagem centrada nos valores que derivam da antropologia cristã, que parte
da Redenção e nela se ilumina.
A
tentação hoje é propor valores, mas valores humanos horizontais, sem fazer
emergir a vinculação explícita que possuem com a fonte vertical, com a fé em
Cristo.
É
uma educação que requer a renovação do coração fundamentada no reconhecimento
do pecado em suas manifestações sociais e individuais.
A
educação em valores deve ser sempre prática, constante, permanente e
progressiva. Os valores são necessários mais do que nunca em nossa época. O
desafio é criar um humanismo novo para o século XXI, este é um desafio que nos
confrontamos no início deste milênio.(Ciriaco Izquierdo Moreno)
Conclusão:
O
documento do vaticano II sobre a Educação diz:
“As crianças e os adolescentes têm direito de serem
estimulados a estimar retamente os valores morais e a abraça-los pessoalmente,
bem como a conhecer e amar Deus mais perfeitamente. Por isso, pede
insistentemente o Concílio a todos que governam os povos ou orientam a
educação, para que providenciem que a juventude nunca seja privada deste
sagrado direito.” GE 1
Concluo
com as palavras de Nossa Mãezinha aos educadores de Lagoa Santa:
“A
verdadeira revolução é a do coração. A mais perigosa arma na mão de um São
Francisco de Assis seria inocente como uma flor. De que adianta mudar as ordens
das coisas se não há ordem no coração do homem? Tudo ficará novamente
desordenado. O verdadeiro progresso é o do coração. Nenhum sistema econômico
salvará um povo se sua alma estiver doente.
Substituir
os dez mandamentos por milhares de leis será sempre insuficiente.
Nós
educadores, temos de trabalhar continuamente na nossa reeducação, procurando
sempre vencer o egoísmo e o individualismo.
O
rabino Nilton Bonder conta a seguinte história:
Um
homem viajava de barco quando resolveu, de repente fazer um buraco no casco,
debaixo de sua poltrona. Os demais tripulantes protestaram e pediram para que
ele parasse. Mas o sujeito respondeu: “Não se metam, o buraco é debaixo de
minha cadeira”.
O
resultado é previsível estamos todos no mesmo barco, navegar é preciso até
desaparecer a linha do horizonte quando céu e terra se reconciliam.
Que o Pai Celeste que
tanto nos ama a ponto de enviar seu Filho para nos salvar, Ele, o único Mestre,
nos ensine a todos nós a sermos discípulos generosos, semeadores de esperança”.
“Educar é obra de amor, lucidez, competência e paciência”.
Bibliografia: Discurso de Nossa Mãezinha:
à
Na
inauguração da Creche N. Senhora de Belém – Lagoa Santa dezembro/87.
à
Paraninfa
nas escolas Mater Ecclesiae – núcleo Glória, dezembro/1998.
à
Aos
educadores de Lagoa Santa, 26 de maio de 1999.
Documento Conciliar: “Gravissimus
Educationis”
CALLICIOTTI, Pe. Antonio. Valores a caminho da vida . São Paulo: São
João, 1998.
MORENO, Ciriaco Izquierdo. Educar em valores. São Paulo:
Paulinas,2001.
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