quinta-feira, 4 de abril de 2013

EDUCAÇÃO EM VALORES


Educação em valores

“Educar é mais do que instruir é construir o homem e o mundo”.

Madre Maria Helena Cavalcanti

I - Educar  
Conceito - É o desenvolvimento do ser humano em suas faculdades sensitivas, intelectuais e volitivas ( EXPLICAR), de modo que aprenda a viver em harmonia consigo mesmo e no seu contexto histórico-cultural.
O Documento Gravissimus Educationis acrescenta: “A verdadeira educação, porém, pretende a formação da pessoa humana em ordem ao seu fim último e, ao mesmo tempo, ao bem das sociedades de que o homem é membro e em cujas responsabilidades, uma vez adulto, tomará parte.” GE 1

II - Como educar em valores
à         Os valores devem ser considerados de maneira central e sistemática na ação educativa pelo lugar que ocupam na realização da pessoa e no desenvolvimento da personalidade humana, considerando ainda a crise de identidade que o mundo se encontra. Não se pode viver sem valores nem tão pouco educar sem eles.
Em que valores educar? Tudo depende do tipo de ser humano que quero formar. Por isto é importante a conscientização da escola e do corpo docente do que estão fazendo em sua prática educativa com relação aos valores. Uma escola orientada para a formação de cidadãos, para uma sociedade justa e solidária tem que estar consciente dos meios que utiliza.

A liberdade é um dos valores mais importantes no ser humano. O ser humano pode ser educado porque é livre e pode ser livre porque foi educado; só  se educa o homem libertando-o; só se liberta o homem educando-o.
A educação em valores requer uma metodologia complexa que leva em conta desde os estímulos valorativos que se oferecem ao estudante até a reflexão sobre o ser humano e seu destino. O método de esclarecimento de valores contribuiu para destacar a necessidade de que o estudante identifique e reconheça quais são os seus e que desenvolva outros valores.
A técnica de esclarecimento dos valores pode contribuir muito para a formação do homem:
É um subsídio direto para o processo de valorização e, portanto para a busca da própria identidade;
Responde à necessidade de interação e de diálogo na busca de valores;
Fundamenta-se num profundo respeito à dignidade e ao valor da própria pessoa;
É um caminho de aproximação entre os homens, e ao mesmo tempo favorece a atitude de dar sentido e valor às mediações oferecidas pelo meio, o que leva a uma atitude crítica e criativa.

“Valor é,  portanto, a convicção pensada e firme de que algo é bom e que nos convém em maior ou menor grau. Essas convicções se organizam em nosso psiquismo em forma de uma escala de preferências (escala de valores).”Ciriaco Izquierdo Moreno

III – Princípios e fundamentos
O tema dos valores faz parte do nosso ser mais profundo, da nossa íntima realidade, é um  componente indispensável do nosso ser pessoas. Os valores morais são elementos que constituem a nossa realidade pessoal.Com base nos valores morais, podemos ordenar os outros valores de maneira ajustada às exigências do nosso ser enquanto pessoa, os valores agem como integradores e não como substitutos. Os valores dignificam, enobrecem e dinamizam nossa ação e nossa vida.

Diante do mundo complexo em que vivemos, a família e a sociedade não podem omitir-se deixando a responsabilidade para a escola, nem a escola deve aceitar a tarefa da formação moral à margem da realidade familiar e social. Para isto é necessário compreensão, interação, discernimento e colaboração.
O ambiente familiar é o clima mais propício para se conseguir uma educação em valores, uma educação integral, tendo como base a formação moral e religiosa que se projetará em um desenvolvimento harmonioso e coerente da personalidade, em uma valorização profunda do sentido da família no mundo atual e em uma integração perfeita na vida social. A educação em valores deve ser uma educação progressiva e gradual até adquirir uma responsabilidade na auto-realização, autodeterminação e liberdade, tanto pessoal como social. É ajudar o desenvolvimento e a afirmação do caráter próprio da humanidade e de cada indivíduo.

A crise moral provocada pela cultura da modernidade ou pós-modernidade: Às vezes de maneira exagerada destacam-se o individualismo e a liberdade pessoal e incentiva-se uma espécie de sacralização do eu, cujos ídolos mais adorados  revestem-se de consumismo, hedonismo, erotismo e facilismo. Desprezam-se a dor, o sacrifício e os compromissos e exaltam-se o leve (light) e o prazer imediato. Valorizam-se a competição, o poder e o dinheiro que não se considera mais a pessoa por aquilo que é (sentimentos, ideais), mas pelo que tem e pode. Para muitas pessoas o grande drama da vida é não saber o que é verdade.

É  nossa responsabilidade analisar no próprio meio até que ponto a personalidade e o comportamento dos nossos jovens estão impregnados e influenciados por essa cultura, para oferecer-lhes uma ajuda mais eficaz em seu processo educativo.

IV - O papel do Ensino Religioso
“É hora de cada um se perguntar: diante da realidade atual que direção vou dar à minha missão de educador? Principalmente de educador da fé . Não adianta possuir o mapa da cidade se não sei aonde quero ir.”  Madre Maria Helena Cavalcanti

A pedagogia de nossa Madre se baseia no salmo 118,66:
“Senhor ensina-me a bondade, a ciência e a disciplina.”
Segundo nossa Mãezinha: “Esses três ingredientes: bondade, ciência e disciplina numa relação equilibrada constituem uma sábia receita de formação da personalidade. Vejamos: a bondade sem ciência é às vezes uma boa intenção sem bons resultados pois as luzes do conhecimento evitam muitos males da ignorância. Por sua vez a ciência, o conhecimento sem a bondade às vezes se transforma em arrogância, incompreensão e intolerância.
A bondade sem a disciplina pode degenerar em fraqueza, permissividade. Até as plantas precisam ser disciplinadas. Todavia a disciplina não pode ser encarada como algo que oprime e reprime, mas uma canalizadora das energias positivas. Não basta ter boa vontade, auto controle, auto domínio. É preciso ter força de vontade. Edson quando o elogiavam dizia: para 1 % de talento acrescento 99 de esforço. Tagore acrescenta: ‘O homem foi feito para superar-se.’
Por outro lado a disciplina sem a bondade é tirania: sufoca a criatividade e a espontaneidade.
Trabalhemos para possuir uma bondade esclarecida, um conhecimento humilde, sem preconceitos e uma disciplina amorosa.”

Tendo como base os mesmos ‘ingredientes’ citados anteriormente poderíamos descrever um pequeno projeto de educação em valores:

Bondade -   A verdadeira educação em valores deve ajudar o ser humano a viver todos os problemas com segurança e confiança, de maneira que, por sua vivência e bem-fazer, as riquezas salvadoras do Evangelho apareçam como metas e ideais normativos de sua vida. “Só Deus é bom” No relacionamento do homem com Deus, com o mundo e consigo mesmo, podemos trabalhar três verbos: crer , rezar e amar.

CRER – Mãezinha continua: “Um julgamento isento mostra que nunca a inteligência humana separada de deus enxergou melhor. A razão nos leva ao vestíbulo da fé e é a própria fé ‘que nos ensina a dignidade da inteligência e a importância prodigiosa das idéias’.
A essência do ser humano de hoje, de ontem e de amanhã é a essência do homem eterno, feito á imagem e semelhança de Deus’ Gen 1,26, portanto capaz de conhecê-lo.
‘A fé que se fundamenta no testemunho de deus e conta com a ajuda sobrenatural da graça, pertence efetivamente a uma ordem de conhecimento diversa do conhecimento filosófico’ (João Paulo II – FR 9).
O cristão vive de fé. O justo vive de fé’ Rm 1,17. Olha tudo pelo ângulo da fé e reage no seu tom. Transfigura o mundo com seu olhar de fé. Na obscuridade da fé toma por lanterna para seus passos a palavra de deus.
‘O homem se encontra num caminho de busca humanamente infindável: busca da Verdade e busca duma pessoa em que possa confiar. A fé cristã vem em sua ajuda dando-lhe a possibilidade concreta de ver realizado o objetivo dessa busca.
Em Jesus Cristo, que é a Verdade, a fé reconhece o apelo último dirigido à humanidade para que possa tornar realidade o que experimenta como desejo e nostalgia’ João Paulo II – FR 33.
Quem crê também sabe que a fraternidade é possível e está disposto a pagar o seu preço, superando todo o egoísmo.”

ORARSão numerosas as passagens do Evangelho em que Nosso Senhor exorta à oração. Diz o Santo Padre:
“Rezar é tão importante que o próprio Jesus nos diz: “Vigiai e orai” Lc 21,36. ... Ele quer que rezemos para obtermos luz e força. É na oração que chegamos a conhecer a Deus: a descobrir sua presença na nossa alma, sentir Sua voz que fala através da nossa consciência e assumir a responsabilidade pessoal pela nossa vida e pelo nosso mundo” (João Paulo II).
Para Deus ninguém é anônimo pois ao nos criar com amor totalmente gratuito chama cada um de nós pelo seu nome. Na oração nós lhe respondemos.

AMAR – “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” Jo 15,12

O sentimento pode conter e facilitar o amor, mas o amor não se reduz e não se esgota em sentimento. Quando nos atraímos ou nos afastamos num relacionamento puro sentimento. O amor é querer o bem do outro sem troca. Amar não é apenas desejo é ação. Jesus Cristo nos amou e entregou toda a sua vida por nó. Amar para tirar vantagem não é amor, é egoísmo. Levamos o outro a viver em Deus amando-º Quando alguém se depara com o amor se depara com Deus.

Conhecimento – Permitir ao educando o crescimento de conhecimento que favoreça uma faculdade crítica que leve a reflexão sobre a sociedade em que vivemos e sobre seus valores, preparando os futuros adultos para abandonarem esses valores quando não favorecerem a justiça para todos. Para isto é necessário ensinar a pensar.
PENSAR – “ ‘Aprender a pensar, eis o princípio da moral’ disse Pascal. Pensar é mais do que acumular conhecimentos, mais do que ser erudito. Pensar é refletir, é buscar a Verdade, é saber ler nos acontecimentos da História, da vida, da natureza. É saber relacionar os fatos e tirar conclusões . É aprender a viver por motivos e não por emoções.
À s vezes ensinamos o que as crianças e os jovens devem pensar, mas omitimos algo muito importante: como devem pensar.
‘O ato de pensar qualifica o homem no seio da criação. É pensando que ele pode corresponder da melhor forma à tarefa que lhe foi confiada pelo Criador’.João Paulo II – l’Osservatore romano 21-11-98.
Disciplina Nossa Madre nos diz: ‘Os valores morais não podem ser colocados em segundo plano no projeto educacional. Sócrates sempre ligou a sabedoria à virtude. O educador pelo seu exemplo e incentivo ajudará o discípulo a canalizar a agressividade tão inerente ao ser humano para domínio de seus impulsos e paixões negativas, para as corajosas escaladas morais e para a abertura fraterna. Precisamos aprender a evitar os confrontos e a caminhar lado a lado com confiança, consideração, respeito, benevolência, auxílio mútuo, solidariedade, doçura’.
Na tarefa da educação em valores no que se refere à disciplina outros verbos se nos apresentam: Ser e trabalhar.

SER – O ser humano existe para amar e respeitar os outros. Todavia esses valores estão colocados em uma escala. É o caos que vivemos todos os dias: seqüestros, fome, assaltos, guerra de todos os tipos. Descaso á tudo que seria direito do homem; educação, saúde, moradia, trabalho, lazer. Um profissional que não realiza bem a sua tarefa falta com o respeito ao próximo, e conseqüentemente não tem consciência do valor do ser humano.
A pessoa humana é o centro da criação, tudo adquire valor em função dela. Ela é capaz de pensar e querer, ela é além de matéria, espírito. A dignidade da pessoa está, na capacidade de participar da natureza divina: inteligência e vontade. Gn 1, 26.
Isto dá valor divino ao homem. De modo que, respeitar a pessoa é respeitar a Deus, desrespeitar a pessoa é desrespeitar a Deus. I Jo 4,20
Pecar é ofender a Deus ofendendo a pessoa humana.
Só Deus dá ao homem a capacidade de viver como homem.

Adquirir Virtudes – no relacionamento humano em geral a estima das pessoas com os outros é determinada mais por aquilo que eles têm do que por aquilo que eles são. A cultura do ter ao invés do ser.
O que dá dignidade é ser pessoa humana e ter o comportamento digno de pessoa. Ter um comportamento digno é ser virtuoso. A virtude é a disponibilidade habitual de fazer o bem. Como se adquire a facilidade de fazer algo? Só colocando em prática habitualmente. O cantor, o motorista, a cozinheira.... só a prática de cada dia os faz verdadeiros profissionais.
As virtudes fundamentais que devemos ter para fazer o bem se resumem em quatro:
à        Prudência – leva-nos a escolher os meios adequados.
à        Justiça – nos faz respeitar os direitos dos outros.
à     Fortaleza – dá a capacidade de enfrentar sem medo as dificuldades que    encontramos.
à        Temperança – nos permite evitar os excessos.
Essas virtudes também chamamos de valores, pois são disposições valiosas e indispensáveis para viver no bem, por serem fundamentais abrangem outras virtudes nas quais se completam.
No conhecimento e na prática destas virtudes está a sabedoria do homem, através delas viverá a vocação que é amar e conseguirá a felicidade que tanto deseja.
O ter contribui para o nosso bem na medida que é fruto de ser e nos ajuda a sermos cada vez mais.
Quando morremos só levamos o amor que vivemos.

TRABALHAR – “O trabalho constitui uma dimensão fundamental da existência do homem sobre a terra” LE 11,4 – João Paulo II.
“Trabalhar é participar da contínua criação do Universo, é integrar-se e solidarizar-se com toda a humanidade. É evitar a atitude de espectador que não é seguida pela ação. Criticar é fácil. Construir é difícil. É não apenas reclamar diante do mal, mas repudiar a neutralidade, o comodismo, a indiferença e despertar para o sentido de responsabilidade.
“O trabalho é o amor em ação.”
Só assim construiremos um país melhor, mais justo, mais próspero, um mundo novo: na justiça, na solidariedade, na caridade, na simplicidade e na paz.

Diante da crise de valores vivida pela sociedade o ensino religioso precisa lançar através de Jesus Cristo e do seu Evangelho, a mensagem da civilização do amor, uma mensagem centrada nos valores que derivam da antropologia cristã, que parte da Redenção e nela se ilumina.

A tentação hoje é propor valores, mas valores humanos horizontais, sem fazer emergir a vinculação explícita que possuem com a fonte vertical, com a fé em Cristo.
É uma educação que requer a renovação do coração fundamentada no reconhecimento do pecado em suas manifestações sociais e individuais.
A educação em valores deve ser sempre prática, constante, permanente e progressiva. Os valores são necessários mais do que nunca em nossa época. O desafio é criar um humanismo novo para o século XXI, este é um desafio que nos confrontamos no início deste milênio.(Ciriaco Izquierdo Moreno)

Conclusão:
O documento do vaticano II sobre a Educação diz:
“As crianças e os adolescentes têm direito de serem estimulados a estimar retamente os valores morais e a abraça-los pessoalmente, bem como a conhecer e amar Deus mais perfeitamente. Por isso, pede insistentemente o Concílio a todos que governam os povos ou orientam a educação, para que providenciem que a juventude nunca seja privada deste sagrado direito.” GE 1
Concluo com as palavras de Nossa Mãezinha aos educadores de Lagoa Santa:
“A verdadeira revolução é a do coração. A mais perigosa arma na mão de um São Francisco de Assis seria inocente como uma flor. De que adianta mudar as ordens das coisas se não há ordem no coração do homem? Tudo ficará novamente desordenado. O verdadeiro progresso é o do coração. Nenhum sistema econômico salvará um povo se sua alma estiver doente.
Substituir os dez mandamentos por milhares de leis será sempre insuficiente.
Nós educadores, temos de trabalhar continuamente na nossa reeducação, procurando sempre vencer o egoísmo e o individualismo.
O rabino Nilton Bonder conta a seguinte história:
Um homem viajava de barco quando resolveu, de repente fazer um buraco no casco, debaixo de sua poltrona. Os demais tripulantes protestaram e pediram para que ele parasse. Mas o sujeito respondeu: “Não se metam, o buraco é debaixo de minha cadeira”.
O resultado é previsível estamos todos no mesmo barco, navegar é preciso até desaparecer a linha do horizonte quando céu e terra se reconciliam.
Que o Pai Celeste que tanto nos ama a ponto de enviar seu Filho para nos salvar, Ele, o único Mestre, nos ensine a todos nós a sermos discípulos generosos, semeadores de esperança”. “Educar é obra de amor, lucidez, competência e paciência”.

Bibliografia: Discurso de Nossa Mãezinha:
à      Na inauguração da Creche N. Senhora de Belém – Lagoa Santa dezembro/87.
à      Paraninfa nas escolas Mater Ecclesiae – núcleo Glória, dezembro/1998.
à      Aos educadores de Lagoa Santa, 26 de maio de 1999.
Documento Conciliar: “Gravissimus Educationis”
CALLICIOTTI, Pe. Antonio. Valores a caminho da vida . São Paulo: São João, 1998.
MORENO, Ciriaco Izquierdo. Educar em valores. São Paulo: Paulinas,2001.

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