ESTUDOS DA CNBB – 97
Iniciação à vida cristã
Um Processo de Inspiração Catecumenal
O tema da
iniciação cristã é conseqüência da caminhada da Igreja nestes últimos anos e é
tão urgente que foi escolhido como tema prioritário da 47ª Assembléia Geral da
CNBB de 2009.
Essa expressão
procura traduzir a comunicação de uma fé que não se reduz à intimidade com
Jesus Cristo, mas que tenha reflexos e influências vitais na própria
existência, levando à participação da comunidade, que no seu conjunto, deve dar
testemunho do Evangelho.
Número 287 – DA “Impõe-se
a tarefa irrenunciável de oferecer uma modalidade (operativa) de iniciação
cristã”:
I – Iniciação à vida cristã: por quê – Motivações
II – Iniciação à vida cristã: o que é – Natureza
III – Iniciação à vida cristã: como – Metodologia
IV – Iniciação à vida cristã: com quem - onde – Agentes e
lugares
I - Motivações
O catecumenato foi um caminho antigo e
eficiente, desenvolvido pelas comunidades cristãs, aprofundado pelos Santos
Padres, acolhido e institucionalizado pela autoridade eclesiástica, núcleo do
próprio ano litúrgico, gerado neste processo. O valor do mistério de Cristo e
da Igreja era experimentado e depois explicado numa vivência marcada pelo rito
através de uma catequese chamada “mistagógica” (que inicia no mistério). O
rito, ao envolver a pessoa por inteiro, marca-a mais profundamente do que a
simples instrução e interiorizado que foi aprendido e proclamado, realçando a
dimensão do compromisso.
A Igreja se vê
diante da necessidade de uma real iniciação, para formar cristãos que assumam
de fato o projeto do Reino.
Daí a necessidade
de formas de catequese que estejam verdadeiramente a serviço da iniciação
cristã, na complexidade de suas exigências, como afirma o DGC ( no 63-68) e o
DNC ( no 35). Mas a iniciação não é missão só da catequese; é trabalho de toda
a comunidade, principalmente da dimensão litúrgica e dos ministros ordenados.
Sente-se hoje uma necessidade urgente de revisão profunda da nossa prática
eclesial, para estabelecer, na sua função primordial a iniciação cristã.
O documento de
Aparecida diz: “Ou educamos na fé, colocando as pessoas realmente em contato
com Jesus Cristo e convidando-as para seu seguimento, ou não cumpriremos nossa
missão evangelizadora”.
( n. 287; cf. 286-294 )
A restauração do
catecumenato, solicitada pela Igreja (cf SC 64-68 e AG 14) com a devida
inculturação, quer retomar a dimensão mística, celebrativa, da catequese,
considerando que um dos aspectos essenciais da educação da fé é levar as
pessoas a uma autêntica experiência cristã, na integridade de suas várias
dimensões.
II - O que é mesmo
iniciação-natureza
Iniciação é
sempre iniciação ao mistério, é mergulho pessoal no mistério.
Jesus fala do Reino usando a categoria de mistério: “A vós é
confiado o mistério do Reino de Deus”
( Mc 4,1; cf. Mt 13,11; cf. Lc 8,10 )
A mensagem cristã apresentada como
mistério leva naturalmente à realidade da iniciação. O mistério é um segredo
que se manifesta somente aos iniciados. Diferentemente de outros conhecimentos
ou práticas, não se tem acesso ao
mistério através de um ensino teórico, ou com a aquisição de certas
habilidades. Para se ter acesso aos divinos mistérios a pessoa precisa, de uma
maneira ou de outra, ser iniciada a essas realidades maravilhosas através de
experiências que a marquem profundamente. São os ritos iniciáticos tão
desenvolvidos na antiguidade.
Os cristãos
lançaram mão dessa realidade humana tão arraigada nas culturas. Entretanto, era
algo muito mais profundo: para participar do mistério de Cristo Jesus era
preciso passar por uma experiência impactante de transformação pessoal e
deixar-se envolver pela ação do Espírito.
Descobrir o
mistério da pessoa de Jesus e os mistérios do Reino, assumir os compromissos de
seu caminho, viver a ascese requerida pela moral cristã...são realidades muito
exigentes; sem um verdadeiro processo de iniciação não se alcança seu
verdadeiro sentido.
Características:
1) É
obra do amor de Deus
2) Esta
obra divina se realiza na Igreja e pela mediação da Igreja
3) Este
dom de Deus realizado na igreja e pela Igreja tem um terceiro elemento: requer
a decisão livre da pessoa.
4) É
a participação humana no diálogo da salvação
III – Como - Metodologia
Palavra, Comunidade e Celebração
O itinerário da iniciação cristã inclui
sempre o “anúncio da palavra, o acolhimento do Evangelho que implica a
conversão, a profissão de fé, o Batismo, a efusão do Espírito Santo, o acesso à
comunhão eucarística”. (CIC 1229).
O protótipo do processo, da
metodologia que conduz à vida cristã é o catecumenato batismal e pós-batismal.
“A iniciação cristã, que inclui o querigma,
é a maneira prática de colocar alguém em contato com Jesus Cristo e inicia-lo
no discipulado. Dá-nos, também a
oportunidade de fortalecer a unidade dos três sacramentos... (DA 288).
Apresentam-se também características
complementares do catecumenato, como a atenção à formação integral e vivencial,
a dimensão orante, a prática da caridade e a renúncia de si mesmos. Para isso a
catequese deve ir além do conhecimento das verdades e preceitos através da dimensão
bíblica, orante, celebrativa, e relacionar-se profundamente com o ano
litúrgico. Há também o acompanhamento dos introdutores, a contribuição dos
padrinhos e membros da comunidade, a participação gradativa nas celebrações da
comunidade e estímulo ao testemunho de vida. Entre catequese e liturgia deve
haver íntima cooperação: elas se reforçam mutuamente no processo catecumenal.
IV –
Para quem
a)
adultos e jovens não batizados
b)
adultos e jovens batizados que desejam completar a
iniciação cristã.
c)
Adultos e jovens com prática religiosa, mas
insuficientemente evangelizados.
d)
Crianças não batizadas e inscritas na catequese
e)
Crianças e adolescentes batizados que seguem o processo
tradicional de iniciação cristã
V – Com quem contamos
O RICA tem importantes orientações sobre os
agentes responsáveis pela Iniciação (cf. RICA 41-48):
a) Introdutores
b) Padrinhos
e madrinhas
c) A
família
d) Os
catequistas
e) A
comunidade
f) Os
ministros ordenados
Em termos de organização da catequese, o
documento pede que se acabe com as coordenações de preparação pra Batismos, de
preparação para a Primeira Comunhão Eucarística e para a Crisma e se crie uma
única “coordenação dos sacramentos da iniciação”!
Mensagem de Aparecida (n. 29)
“A alegria de ser discípulo é antídoto
frente a um mundo atemorizado pelo futuro e oprimido pela violência e pelo
ódio. A alegria do discípulo não é um sentimento de bem-estar egoísta mas uma
certeza que brota da fé, que serena o coração e capacita para anunciar a boa
nova de amor de Deus. Confessar Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa
pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e
fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria.”
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