quinta-feira, 4 de abril de 2013


ESTUDOS DA CNBB – 97

 Iniciação à vida cristã
 Um Processo de Inspiração Catecumenal

     O tema da iniciação cristã é conseqüência da caminhada da Igreja nestes últimos anos e é tão urgente que foi escolhido como tema prioritário da 47ª Assembléia Geral da CNBB de 2009.
     Essa expressão procura traduzir a comunicação de uma fé que não se reduz à intimidade com Jesus Cristo, mas que tenha reflexos e influências vitais na própria existência, levando à participação da comunidade, que no seu conjunto, deve dar testemunho do Evangelho.

Número 287 – DA “Impõe-se a tarefa irrenunciável de oferecer uma modalidade (operativa) de iniciação cristã”:

I – Iniciação à vida cristã: por quê – Motivações
II – Iniciação à vida cristã: o que é – Natureza
III – Iniciação à vida cristã: como – Metodologia
IV – Iniciação à vida cristã: com quem - onde – Agentes e lugares

I - Motivações

    O catecumenato foi um caminho antigo e eficiente, desenvolvido pelas comunidades cristãs, aprofundado pelos Santos Padres, acolhido e institucionalizado pela autoridade eclesiástica, núcleo do próprio ano litúrgico, gerado neste processo. O valor do mistério de Cristo e da Igreja era experimentado e depois explicado numa vivência marcada pelo rito através de uma catequese chamada “mistagógica” (que inicia no mistério). O rito, ao envolver a pessoa por inteiro, marca-a mais profundamente do que a simples instrução e interiorizado que foi aprendido e proclamado, realçando a dimensão do compromisso.
    A Igreja se vê diante da necessidade de uma real iniciação, para formar cristãos que assumam de fato o projeto do Reino.
    Daí a necessidade de formas de catequese que estejam verdadeiramente a serviço da iniciação cristã, na complexidade de suas exigências, como afirma o DGC ( no 63-68) e o DNC ( no 35). Mas a iniciação não é missão só da catequese; é trabalho de toda a comunidade, principalmente da dimensão litúrgica e dos ministros ordenados. Sente-se hoje uma necessidade urgente de revisão profunda da nossa prática eclesial, para estabelecer, na sua função primordial a iniciação cristã.
     O documento de Aparecida diz: “Ou educamos na fé, colocando as pessoas realmente em contato com Jesus Cristo e convidando-as para seu seguimento, ou não cumpriremos nossa missão evangelizadora”.                                                                              ( n. 287; cf. 286-294 )
    A restauração do catecumenato, solicitada pela Igreja (cf SC 64-68 e AG 14) com a devida inculturação, quer retomar a dimensão mística, celebrativa, da catequese, considerando que um dos aspectos essenciais da educação da fé é levar as pessoas a uma autêntica experiência cristã, na integridade de suas várias dimensões.
  
II - O que é mesmo iniciação-natureza

     Iniciação é sempre iniciação ao mistério, é mergulho pessoal no mistério.
Jesus fala do Reino usando a categoria de mistério: “A vós é confiado o mistério do Reino de Deus”
 ( Mc 4,1; cf. Mt 13,11; cf. Lc 8,10 )

    A mensagem cristã apresentada como mistério leva naturalmente à realidade da iniciação. O mistério é um segredo que se manifesta somente aos iniciados. Diferentemente de outros conhecimentos ou práticas, não  se tem acesso ao mistério através de um ensino teórico, ou com a aquisição de certas habilidades. Para se ter acesso aos divinos mistérios a pessoa precisa, de uma maneira ou de outra, ser iniciada a essas realidades maravilhosas através de experiências que a marquem profundamente. São os ritos iniciáticos tão desenvolvidos na antiguidade.
    Os cristãos lançaram mão dessa realidade humana tão arraigada nas culturas. Entretanto, era algo muito mais profundo: para participar do mistério de Cristo Jesus era preciso passar por uma experiência impactante de transformação pessoal e deixar-se envolver pela ação do Espírito.
    Descobrir o mistério da pessoa de Jesus e os mistérios do Reino, assumir os compromissos de seu caminho, viver a ascese requerida pela moral cristã...são realidades muito exigentes; sem um verdadeiro processo de iniciação não se alcança seu verdadeiro sentido.        

Características:
1)      É obra  do amor de Deus
2)      Esta obra divina se realiza na Igreja e pela mediação da Igreja
3)      Este dom de Deus realizado na igreja e pela Igreja tem um terceiro elemento: requer a decisão livre da pessoa.
4)      É a participação humana no diálogo da salvação

III – Como - Metodologia
   Palavra, Comunidade e Celebração

     O itinerário da iniciação cristã inclui sempre o “anúncio da palavra, o acolhimento do Evangelho que implica a conversão, a profissão de fé, o Batismo, a efusão do Espírito Santo, o acesso à comunhão eucarística”. (CIC 1229).
O protótipo do processo, da metodologia que conduz à vida cristã é o catecumenato batismal e pós-batismal.
    “A iniciação cristã, que inclui o querigma, é a maneira prática de colocar alguém em contato com Jesus Cristo e inicia-lo no discipulado.   Dá-nos, também a oportunidade de fortalecer a unidade dos três sacramentos... (DA 288).
  
     Apresentam-se também características complementares do catecumenato, como a atenção à formação integral e vivencial, a dimensão orante, a prática da caridade e a renúncia de si mesmos. Para isso a catequese deve ir além do conhecimento das verdades e preceitos através da dimensão bíblica, orante, celebrativa, e relacionar-se profundamente com o ano litúrgico. Há também o acompanhamento dos introdutores, a contribuição dos padrinhos e membros da comunidade, a participação gradativa nas celebrações da comunidade e estímulo ao testemunho de vida. Entre catequese e liturgia deve haver íntima cooperação: elas se reforçam mutuamente no processo catecumenal.

 IV – Para quem

a)      adultos e jovens não batizados
b)      adultos e jovens batizados que desejam completar a iniciação cristã.
c)      Adultos e jovens com prática religiosa, mas insuficientemente evangelizados.
d)     Crianças não batizadas e inscritas na catequese
e)      Crianças e adolescentes batizados que seguem o processo tradicional de iniciação cristã

V – Com quem contamos

    O RICA tem importantes orientações sobre os agentes responsáveis pela Iniciação                                                                                                        (cf. RICA 41-48):

a)      Introdutores
b)      Padrinhos e madrinhas
c)      A família
d)     Os catequistas
e)      A comunidade
f)       Os ministros ordenados

     Não se pode implantar um processo com esse nível de exigência sem a correspondente preparação e contínua reflexão e revisão de vida dos agentes e testemunho da comunidade.
    Em termos de organização da catequese, o documento pede que se acabe com as coordenações de preparação pra Batismos, de preparação para a Primeira Comunhão Eucarística e para a Crisma e se crie uma única “coordenação dos sacramentos da iniciação”!

Mensagem de Aparecida (n. 29)

    “A alegria de ser discípulo é antídoto frente a um mundo atemorizado pelo futuro e oprimido pela violência e pelo ódio. A alegria do discípulo não é um sentimento de bem-estar egoísta mas uma certeza que brota da fé, que serena o coração e capacita para anunciar a boa nova de amor de Deus. Confessar Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria.”

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